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A desgatada anedota do viajante do tempo que indaga, muito ingênuo, se deixaria de existir se matasse o próprio avô décadas antes de ter nascido, pode não causar efeito hoje. Mas histórias de paradoxos levaram à criação de um universo partilhado de Ficção Científica Brasileira, concebido por Octavio Aragão, que conjurou os melhores escritores de gênero do país e transcendeu limites midiáticos e internacionais. “Intempol – Uma Antologia de Contos sobre Viagens no Tempo” – até que essa linha temporal seja modificada – foi publicado em outubro de 2000. Lúcio Manfredi, Jorge Nunes, Osmarco Valladão, Carlos Orsi Martinho, Gerson Lodi-Ribeiro, Paulo Elache e Fábio Fernandes apresentaram suas próprias versões de uma realidade em transformação. E o drama agora é se, ao viajar para o passado, você pode ter o coração dilacerado por uma femme fatalle que nunca disse adeus num 1953 que ainda virá, receber um telefonema de Elleny Macintosh, arrancar a arma – na verdade, as duas – de seu desafeto, e ainda ter o cérebro dilacerado por um tiro de impacto fulminante. Sendo que o autor do disparo seria você mesmo, após algumas revisões temporais.
Versões de como tudo começou continuam a se manifestar em todos os arquivos de registro histórico. Um autor de nome Poul Anderson teria criado uma força policial de agentes temporais, a qual se bifurcaria entre indivíduos lineares, dragões brancos, Hip Slayers e dois sujeitos numa cabine telefônica – um destes salvador da humanidade. A loteria foi decidida num jogo de futebol, em 1982 ou 2184, quando o Brasil parou em frente às telas para vibrar. Paixão nacional é algo com a qual não se brinca. Octavio Aragão decidiu mudar os rumos da história, e os resultados foram além do que senhores do tempo poderiam supor. O Agente Anderson marca presença, alternando alcunhas familiares, não dá boas-vindas a ninguém e os fatos parecem não resolvidos. Mas Rucka O´Malley pode solucionar tudo. As pistas estão aí – basta seguir duas palavras mágicas: Jeitinho brasileiro.
Inserindo em sua narrativa mutável e contraditória todo o espírito do canalha, do velho malandro e de quem não hesita em usar métodos rothianos na hora de extrair informações de um prisioneiro, Intempol definiu uma metodologia de ação brasileira a ser seguida pelo universo. Os próprios escritores dessas alucinações reais e metódicas marcam presença nos contos um dos outros e esfacelam o tecido de qualquer sacralidade literária. Entre múmias em museus, visões em parallax e ampulhetas sedentas de sangue, não se permite ao leitor um milionésimo de segundo para respirar quando nomes de sociedades secretas milenares que não podem ser pronunciadas são aclamadas aos quatrocentos cantos de um quarto escuro, a Empresa o domina, Lobinho chama tigre, tigre, e um trovador que nunca esteve sozinho já nem sabe mais se o tempo pode ou não parar.
Dan Simmons, Lovecraft, Asimov, Borges, William Gibson e Bradbury a tudo observam. Foi dado um passo à frente nos caminhos da Ficção Científica Brasileira, e agora não somos apenas o país do Futuro, como também um povo que não se envergonha de mostrar a cara e detonar quem aparecer pela frente. O brasileiro que precedeu a recriação de cada realidade alternativa em agosto, dando nome de mágico a detetive e mostrando como Ela é capaz de deixar um homem muito preocupado com a possível remoção de suas partes íntimas também já foi reinterpretado e existe como discípulo teimoso de Will Eisner. E cada leitor de Intempol é capaz de se exterminar consecutivamente com requintes de crueldade progressiva, no exato momento que definiu sua vida, para ressurgir assistindo à cena, distante de qualquer eternidade e se julgar ainda mais perdido.
Marcus Vinicius de Medeiros, Nível 5.2.
15 comentários:
Excelente resenha!!
Nos enche de orgulho da intempol as palavras do Marcus. Demonstra muito bem que termos um universo tão peculiarmente brasileiro quanto ímpar e universal.
Parabens, intemporais!!!
Valeu, Denis.
Também acho que o Marcus foi bastante feliz no texto.
Eu penso que o Marcus é um agente temporal, ele também.
Excelente crítica, como sói, já nos habituamos; mesmo assim, surpreende.
Será ele mesmo?
O que mais me agrada (e surpreende) é perceber que a Intempol, mesmo depois de dez anos da primeira publicação de Eu Matei Paolo Rossi, ainda atrai admiradores e resenhas elogiosas desse naipe.
Quando for o momento infinitamente multiplicado de recriar essas linhas temporais brasileiras - um ponto para recuperar o fôlego - . 52 vezes que correspondem a 52 universos dentro de um hypertime com garotas de formas da praia de Ipanema, eu já estava preparado antes mesmo de considerar a possibilidade.
Fala garoto,
como sempre, mais um belo texto de Marcus, o aluno prodígio da Faculdade CCAA.
já fiquei como vontade de ler esse livro. A resenha me deixou curioso, principalmente pela trama e pela comparação com Borges e Lovecraft.
Recomendo pra você a leitura de Borges e os Orangotangos Selvagens, do Veríssimo. Eu até faria uma resenha.. mas ficaria ofuscada perto da sua :/
abção rapa
Muito bom, vc é o cara meesmo,. ABRAÇOS.. E AGORA VC VAI DOMINAR O MUNDO, RSS.
Não entendi nada por hora. De repente precise de novos neuronios
METANEURÔNIOS ATOMIZADOS E DEVIDAMENTE ATIVADOS!!!!
Para quem não entendeu a grandeza da obra, sugiro que compre o livro Metaneurônios Atomizados (devidamente ativados) para que se possa TENTAR entender o que isso quer dizer. De toda maneira, parabéns Marcus. Muita sorte nas vendas!
Seus textos sempre surpreendem. Muito bom! Quero ler o livro!
Bjs,
Vivi
O livro parece ser bem interessante. A resenha ficou boa. E Shelly, se concentre mais na leitura!!!
Oi! Valeu, galera. Vocês são demaiS.
Up, and away!
Com o dia, o local e a razão anunciados:
Neo Superboy Prime, standing by!
Eu acredito.
Sueli Telles de Medeiros
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