quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A volta da Mortífera Maldição da Múmia

Graças ao auxílio luxuoso de Fernando Trevisan, a webcomic A Mortífera Maldição da Múmia, uma produção da equipe Calango Produktado baseada no conto homônimo de Carlos Orsi, publicado originalmente na antologia Intempol (Ano Luz, 2000), ressuscitou e passa bem.

Vão e curtam!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O ovo e a galinha: conto de Jorge Nunes

Por detrás das grossas lentes dos óculos gatinho, a supervisora Mariete fuzilou com olhar de raio laser os dois agentes sentados do outro lado da mesa. Macedo mascava ruidosamente um chiclete e inspecionava com olhar vazio o teto da sala. Sobrinho brincava de girar o chapéu com um só dedo enfiado na copa e assobiava entre dentes uma melodia infame. A supervisora Mariete suspirou fundo. Estava cercada de imbecis, e se sentia muito cansada e solitária.

Não que ela fosse um exemplo de competência. Também saía às vezes da linha, como no dia em que aceitou um convite para jantar com... Mas isso já é uma outra história, e ela abanava a cabeça como para apagar da memória a lembrança. E só quem sabia dos detalhes do caso eram aqueles dois idiotas do outro lado da mesa. Reuniu toda a indignação suficiente para poder passar uma descompostura eficaz nos dois subordinados e mandar-lhes para a próxima missão. Ergueu a régua no ar e golpeou-a com força sobre a mesa:

- Parem com isso!

O estalo da régua sobre a madeira despertou os dois agentes, que num sobressalto recompuseram-se e se aprumaram nas cadeiras. A supervisora Mariete disse:

- Jogue esta porcaria fora, Macedo. Isso me dá nos nervos.

Macedo levou dois dedos à boca, tirou o chiclete e ameaçou aplicá-lo sob a mesa. Sobrinho olhou para o companheiro e abanou discretamente a cabeça em negativo. Por alguns instantes Macedo ficou indeciso, com o chiclete na mão, até que a supervisora apontou para a lixeira.

- Ali, Macedo - ela disse, levando uma das mãos à testa, enquanto apontava a lixeira com a outra. Ele depositou o chiclete no lixo e voltou à cadeira. A supervisora se levantou e começou a falar:

- Eu devia esfolar vocês. Prendê-los não adiantaria, já que ainda assim não me livraria dos dois. Continuariam no mesmo lugar onde trabalham e que, infelizmente, é onde eu também trabalho. Por isso, só posso mandá-los para o inferno e é exatamente o que eu vou fazer. Vocês são, provavelmente, os piores agentes que já passaram por aqui, e estão por um fio. Mas vou lhes dar mais uma chance para não ganharem um bilhete azul. Ou então para desaparecerem por completo, o que não seria nada mau.

Macedo e Sobrinho se entreolharam enquanto a supervisora se aproximava por trás das cadeiras onde estavam sentados. Ela pôs a régua debaixo de um dos braços e colocou as mãos sobre o ombro de cada um dos agentes. Continuou:

- Mas dessa vez não vou admitir falhas, não vou tolerar nehum descuido! Aliás, se falharem, não sou eu quem vai puni-los. A supervisora deu um sorrisinho sádico. Macedo limpou um perdigoto da calva, lançado pela veemência da supervisora ao articular puni-los. Ela ajeitou o coque atrás da cabeça e apontou com a régua dois envelopes pardos sobre a mesa.

- Aí estão as instruções. Leiam com cuidado, não se precipitem. O caso até que não é complicado, mas em se tratando de dois idiotas como vocês tudo é possível. Agora sumam daqui.

Os dois agentes nível 2 da Intempol recolheram da mesa os seus respectivos envelopes, levantaram-se e saíram da sala. A supervisora Mariete sentou-se em sua cadeira e olhou com desalento para a folhinha: ainda faltavam quatro meses para as suas férias. Que ironia! Ela era supervisora da Intempol, a respeitável instituição responsável pela ordem no tempo.

Teoricamente dispunha de todo o tempo do mundo, mas era escrava da enervante e arrastada seqüência normal de quatro longos meses, até o doce descanso no lugar e tempo que quisesse. Escolher o local onde passar as férias e o período histórico que desejasse era um dos poucos privilégios de trabalhar para a Intempol que a supervisora considerava. Às vezes pensava como seria bom trabalhar, por exemplo, como bibliotecária numa obscura cidadezinha do interior, ou algo assim. Alguma coisa bem prosaica a simples, sem a pressão dos ponteiros dos relógios, sem o labirinto dos dias, meses, anos e séculos nas folhinhas sufocando na cabeça. E, principalmente, sem ter de aturar as chantagens de certos agentes... Levantou os óculos para a testa e apertou os olhos com os dedos. Estava cansada, muito cansada.

No corredor, Sobrinho comentou com Macedo:

- A velha está cada vez pior. Vive nos chamando de imbecis, mas esquece das besteiras que faz. Um dia, ainda perco a cabeça e dou com a língua nos dentes...

- Deixa de coisa, Sobrinho. Ela faz bobagem também, mas resolve. E ainda tem que resolver as nossas. Vamos até o banheiro. Quero te mostrar uma coisa.

- Tá me estranhando, parceiro?

- Cala a boca e entra aí. Macedo abriu a porta do banheiro e empurrou o parceiro para dentro. Tirou do bolso um pacotinho de plástico transparente contendo um pó branco.

- Sabe o que é isso? - perguntou Macedo, sacudindo com dois dedos o pacotinho. Ele mesmo respondeu:

- Cocaína. Lembra daquele cara que a gente prendeu semana passada, contrabandeando tudo quanto é porcaria pelo tempo? Ele tentou me subornar com ela. Disse que valeria uma grana alta.

- Sim, eu sei, mas só em determinadas épocas, quando era proibida. Aqui não vale nada.

- Foi o que eu disse pro cara, antes de botá-lo em cana. Mas acontece que eu nunca experimentei, dizem que dá uma sensação incrível para quem cheira. Você se sente mais seguro, mais confiante, fica com a atitude ideal para um policial. O cara me ensinou como se faz. E aí? Vai nessa?

- Por que não? Não pode fazer mais mal do que a comida daqui. E olha que o que ela faz é justamente o contrário: dá desânimo e enjôo, quando não diarréia - e Sobrinho olhou pensativo para as latrinas. Macedo pegou da pasta um pratinho que apanhara na cantina, acendeu o Zippo e com ele aqueceu a sua superfície. Espalhou com cuidado um pouco do pó sobre o prato.

- O calor tira a umidade, e faz o pó ficar mais solto - explicou - Me empresta o teu cartão cronal.

Sobrinho tirou do bolso o cartão e passou-o ao colega, meio desconfiado. Reclamou:

- Olha lá, rapaz, o que voce vai fazer com o meu cartão? Sabe como é a burocracia para a segunda via...

- Calma, Sobrinho. Ele começou a separar o montinho de pó com o cartão, em duas carreiras estreitas e paralelas, de mais ou menos sete centímetros de comprimento. O cartão de plástico, usado da mesma forma que uma faca picando salsa, fazia um ruído de código morse enquanto delineava na superfície do prato as duas tiras de pó. A operação foi meticulosa, e Macedo cuidava para que as carreiras fossem as mais finas e regulares possível. Depois de se dar por satisfeito com a forma das paralelas brancas de pó sobre o prato, devolveu o cartão a Sobrinho, tirou da carteira uma nota de dez e enrolou-a em canudo, como lhe havia dito para fazer o homem que tentara suborná-lo. Sobrinho acompanhava a operação enquanto acendia um cigarro. Ele perguntou:

- E agora?

- Agora a gente cheira essas carreiras, aspirando bem fundo - respondeu Macedo. Curvou-se sobre a pia onde estava apoiado o prato, enfiou uma das extremidades da nota em canudo em uma das narinas, ao mesmo tempo que fechava a outra com um indicador, e aspirou toda a carreira da esquerda para os pulmões. Sentiu uma ligeira ardência por dentro enquanto o pó passava pela narina, atravessava a traquéia e se infiltrava nos brônquios, até que se alojasse nos pulmões, de onde se espalharia pela corrente sangüínea e alcançaria o cérebro, transformando Macedo no super-policial que ele imaginava o pó ser capaz de criar. Fungou algumas vezes e estendeu a nota enrolada para o companheiro:

- Sua vez agora, parceiro. Sobrinho repetiu a operação. Macedo passou um dedo pelo prato recolhendo os resquícios do pó e passou-o nas gengivas. O outro perguntou:

- Pra quê isso, cara?

- Sei lá. Mas o cara disse que é assim que se faz. Vamos nessa. Percorrendo o branco corredor de paredes nuas do terceiro andar da Intempol até o elevador, entre solenes meneios de cabeça em cumprimento a esse ou aquele agente, Macedo e Sobrinho sentiam crescer a sensação de euforia e excitação que a droga lhes trazia. Sobrinho comentou:

- Não estou sentindo nada, cara. Acho que aquele babaca te enganou. Quer dizer, babaca é você, que caiu nessa. Você é um otário, mesmo, e eu não sei onde eu tenho a cabeça que vou sempre na sua.... Ei, lembra daquela gata do almoxarifado? Ela me deu maior mole, ontem. Acho que vou dar um papo nela. Cara, estou com uma sede. Por que a gente não vai ao bar? Pô, essa cocaína não faz efeito nenhum...

- Cala essa boca, Sobrinho. Parece um papagaio. Sobrinho intercalava cada frase curta com uma fungada e um sacolejar de ombros. O elevador chegou, e os dois agentes desceram ao segundo andar, para o grande salão onde cada agente tinha a sua escrivaninha própria. Cada um buscou a sua e abriram os envelopes contendo a próxima

Enquanto Macedo lia o conteúdo, seu queixo ia desabando. O memorando dizia:

"De: Supervisora Mariete Para: Agente Macedo Assunto: Missão 325/LCG

De acordo com dados apurados em nosso Nível 5, a atuação de alguns agentes da Instituição, ao invés de atender o objetivo de manter a ordem no CET, tem provocado significativas e perigosas alterações na estrutura temporal, causando por vezes um desequilíbrio maior do que o encontrado na situação anterior. Este problema tem sido recorrente, e alguns agentes foram identificados como responsáveis pelo maior número de problemas encontrados. O Agente Cronal Nível 2 Sobrinho é um deles.

A presente missão tem por objetivo a garantia da eliminação do referido Agente, que deve ser realizada a qualquer custo. Dada a impossibilidade de nossos próprios Agentes serem recolhidos à Prisão, foi elaborada uma alternativa. Nossos computadores identificaram uma LT onde o Agente Sobrinho será assassinado no ano de 1998, na cidade do Rio de Janeiro.

Sua missão será acompanhá-lo até a data e local específicos e garantir que o destino do agente Sobrinho se cumpra. Lembramos o sigilo absoluto quanto ao objetivo da missão. O memorando enviado ao Agente Sobrinho contém instruções para que a missão seja apenas a de voltar até 1998 para investigar possíveis anomalias temporais de rotina. E só. Boa sorte,
Supervisora Mariete"


Macedo pôs o memorando de lado e olhou com olhar vidrado para o parceiro. Coincidentemente, Sobrinho tinha acado de ler o seu memorando também, e devolvia o mesmo olhar. Os dois permaneceram se encarando por algum tempo, imersos cada um em seus pensamentos. Sobrinho desviou primeiro o olhar. Fingiu arrumar alguns papéis, mas apenas conseguiu aumentar a bagunça sobre a mesa. O efeito da cocaína tornava ainda mais patética a tentativa. Macedo limpou a garganta e dirigiu-se ao parceiro com voz insegura, sem olhar para ele:

- Brincadeira, hein, parceiro? A velha está de sacanagem com a nossa cara. Voltar no tempo pra nada? Desde quando a gente faz ronda? - Macedo rezava para parecer natural.

- É verdade... - respondeu Sobrinho, evasivo.

Os dois agentes se calaram e conferiram o restante do conteúdo dos envelopes: carteiras de identidade, de motorista e dinheiro da época. Tudo certo. Um homem passou por eles e os cumprimentou com um gesto discreto da mão. Macedo disse:

- Lá vai O'Malley. Ele é que um cara de sorte. Trabalha sozinho e na surdina.

- Qual é, Macedo? Não gosta da minha companhia, é?

- Meu amigo, pode ser que eu me livre dela mais cedo do que você pensa...

- Engraçado: eu poderia dizer a mesma coisa, mas deixa pra lá.

Foram à sala de transporte, digitaram as datas, passaram os seus cartões nas respectivas caixas, e se foram em direção ao Rio de Janeiro de 1998.

Macedo e Sobrinho caminhavam à noite pela Avenida Atlântica. Era verão, o calçadão se apinhava de gringos, de vendedores de todas as bugingangas possíveis, prostitutas e travestis. Nenhum dos dois era muito dado à filosofia, mas não deixavam de se impressionar com o contraste entre a beleza do cenário e os estranhos personagens daquele teatro. A curva do litoral era acompanhada pelo colar das luzes emitidas do alto dos postes, sugerindo uma sensualidade feminina que aguçava a libido dos dois agentes entediados.

Quando não estava analisando a qualidade do material feminino disponível que passava por ali, Macedo pensava na missão. Não tinha a menor idéia do que aconteceria, de como Sobrinho seria assassinado. Não sabia quando, por quem ou por que motivo. Mas olhava atento para um ou outro cidadão suspeito, na esperança de que fosse um assaltante que acabasse de vez com aquela agonia. Dez meses de parceria aproximaram os dois agentes, mas Macedo suspeitava que se a missão não fosse completada ele também estaria em maus lençóis. Era uma questão de sobrevivência e ele não tinha escolha. Tinha de garantir a morte do companheiro, e apelava para sua frieza de policial adquirida em anos de experiência para não se envolver emocionalmente com o problema. Mas transparecia uma ansiedade nervosa, e se assustava à aproximação de qualquer um, aguardando para qualquer momento o acontecimento que mandaria o companheiro para os infernos. Sobrinho mantinha-se calado e de cabeça baixa.

Entraram por uma rua perpendicular, perto do Leme, e ao passarem em frente a uma boate, o sorridente porteiro abriu a porta e os convidou com uma mesura:

- Vai começar o show, cavalheiros. Podem entrar sem compromisso.

Os dois agentes se entreolharam. Sobrinho disse:

- Por que não? Vamos dar uma olhada, Macedo?

- Parceiro, foi a melhor coisa que voce já disse em dez meses. Tá esperando o quê? Entra aí, cara.

A boate era um cubículo apertado, enfumaçada como a praxe recomendava. Uma música 'disco' altíssima fornecia a trilha sonora para três moças de seios nus dançarem sobre seus pedestais, em três cantos da casa. Mesas acanhadas eram iluminadas por pequenas lâmpadas vermelhas. Completavam a iluminação três spots de luz sobre as dançarinas, deixando em penumbra os fregueses, sevidos por garçons usando lanterninhas de mão. Macedo e Sobrinho sentaram-se e pediram cada um uma bebida. Sobrinho escolheu um Campari e Macedo um conhaque. No fundo, um palco minúsculo rodeado de espelhos aguardava o show.

A música parou e foi substituída por outra, mais lenta e sensual. Vinda dos bastidores com passo de pantera, uma jovem de cabelos curtos, espetados e descoloridos, subiu languidamente ao palco. Vestia uma diminuta saia vermelha e um top negro, deixando à mostra uma serpente tatuada na barriga, cuja cauda terminava sob o piercing no umbigo. A jovem começou o seu strip-tease, tirando lentamente cada peça do vestuário até a nudez total, e mostrou-se afinal em toda a sua glória, para deleite dos dois agentes da Intempol.

O show terminou e soaram alguns aplausos esparsos. A moça recolheu do chão as peças de roupa, rodopiou a título de gran finale e retirou-se. A música 'disco' voltou, e imediatamente as três moças de seios nus retomaram o seu rebolar frenético sobre os pedestais. Sobrinho disse:

- Pelo menos a gente se diverte. Melhor do que ficar correndo atrás de malandro pelo tempo. Estou começando a gostar dessa missão...

Macedo levantou um dedo antes de responder, quando uma morena de longos cabelos negros se aproximou da mesa:

- Sozinhos? Posso me sentar um pouco?

Macedo ergueu o olhar e encontrou os olhos da morena:

- Claro, fique à vontade - respondeu, levantando-se.

Ela sentou-se entre os dois e pediu um whisky ao garçon. Escocês. Os agentes não se importaram. Dinheiro não era problema e, mesmo que fosse, a morena merecia todo o whisky que quisesse.

Ela perguntou:

- Procurando diversão, gatos? Talvez eu possa ajudar vocês. Meu nome é Jéssica.

Sobrinho apontou um polegar para o próprio peito e depois na direção do parceiro:

- Eu sou Sobrinho e ele Macedo. Você trabalha aqui, Jéssica?

- Mais ou menos. Digamos que eu preste serviços para a casa. E vocês, o que fazem?

- Nada de mais. Procuramos companhia de belas jovens, como você - respondeu Macedo. Jéssica ajeitou os cabelos negros com um movimento brusco da cabeça e sorriu, exibindo os dentes brancos e perfeitos:

- Parece que encontraram, então. Mas acho que vai faltar companhia para um de vocês. Posso arrumar, se vocês quiserem. Vai custar um pouco mais, mas eu garanto que vai valer a pena.

- Se ela for igual a você não vai haver problemas - disse Sobrinho, acariciando a perna da morena. Jéssica disse:

- É claro que se vocês tiverem alguma coisinha a mais para ajudar seria ótimo. Eu fico bem mais descontraída quando estou ligada, sabe...?

Macedo lembrou-se da cocaína no seu bolso. Talvez fosse aquela coisinha a mais que a morena buscava. Tinha quase certeza de que naquela época a cocaína era apreciada e valiosa. E também proibida. Ele disse:

- Escute, Jéssica: tenho aqui comigo essa coisinha. Você conhece algum lugar onde a gente pudesse conversar mais à vontade?

- Vamos até ao apartamento da minha amiga. Fica a duas quadras daqui.

Os agentes pagaram a conta e saíram acompanhados pela morena. Caminharam até uma esquina e, enquanto aguardavam o sinal para atravessar a avenida, um carro da polícia que estava estacionado em frente à boate se aproximou lentamente e parou em frente aos dois agentes da Intempol. Dois policiais militares saltaram da patrulha ajeitando as calças.

- Boa noite, cidadãos. Documentos, por favor - disse um dos guardas.

Macedo e Sobrinho ficaram um instante sem saber o que fazer. Entreolharam-se indecisos sobre o que responder, e então Macedo começou:

- Escute aqui...

- Cala a boca, babaca! - disse Jéssica - Coloquem as duas mãos no carro e vamos abrindo essas perninhas.

Sobrinho tentou falar:

- Mas... - Você não ouviu a moça, cara? Cala essa boca e fica quieto - disse um dos guardas. Ele voltou-se para Jéssica:

- Quem são os babacas, Sônia? Estão com algum flagrante?

Então Sobrinho entendeu tudo: a tal da Jéssica na verdade era Sônia, uma policial disfarçada de prostituta, e eles caíram direitinho na armadilha.

Puta que o pariu!, pensou. Como é que nós demos um mole desses? Dois policiais tarimbados, acostumados a lidar com malandros de todos os tempos! Mas era melhor não reagir e esperar para resolver a coisa usando o cartão cronal, quando surgisse uma oportunidade. Sônia respondeu ao guarda, indicando Macedo com a cabeça:

- O carequinha aí disse que tinha um presentinho pra mim. Vamos ver o que é. Macedo foi revistado e os policiais encontraram o sacolé de cocaína no bolso do paletó. Um dos policiais falou:

- É, meu camarada. Parece que você dançou. Aqui tem brizola suficiente pra te botar em cana por uns trinta anos... O outro guarda revistou Sobrinho e achou o cartão cronal e a caixa registradora. Mostrou os objetos para Sobrinho e perguntou:

- Que porra é essa, cara? Sobrinho empalideceu. Se acontecesse alguma coisa ao cartão ou à caixa, eles ficariam para sempre presos naquela época. Poderia tentar arrancá-los da mão do guarda, mas talvez não tivesse tempo de se transportar, e eles com certeza atirariam. Macedo arregalou os olhos em direção ao parceiro. Esperou que ele tentasse reagir e que fosse baleado. Mas Sobrinho respondeu:

- São objetos de trabalho, seu guarda. Minha identificação profissional e um aparelho especial. O guarda olhou o cartão e leu:

- "Intempol"? Nunca ouvi falar nessa porra. Que empresa é essa?

Macedo e Sobrinho não poderiam dizer que eram policiais também. Ainda mais "policiais do tempo". Os guardas jamais acreditariam, e talvez só piorasse a situação, se é que isso fosse possível. Era melhor deixar as explicações para algum superior na delegacia. Macedo disse:

- É difícil de explicar. Nós queremos falar com o seu superior. Macedo ganhou uma porrada na cabeça.

- Filho da puta! Tá pensando o quê? O superior aqui sou eu, babaca! Vocês estão fodidos! Vamos em cana! - gritou um dos guardas.

Macedo e Sobrinho foram algemados e entraram na patrulha. Os dois guardas se despediram de Sônia, que foi embora para continuar o seu trabalho. No caminho para a delegacia, os dois agentes não se falaram. Cada um pensava num modo de se livrar da situação. Sobrinho achava que talvez tivessem uma chance de usar o cartão cronal na delegacia. Poderiam pedir ao delegado para mostrar como funcionava o aparelho e sumiriam no tempo, nas barbas de todo mundo. Seria até divertido. Macedo pensava que tudo aquilo favoreceria a missão. O resultado daquela confusão talvez fosse o fim de Sobrinho, como previsto pela Intempol. Acalmou-se e resolveu aguardar o desenrolar dos acontecimentos.

A 12ª Delegacia ficava numa casa velha e mal-cuidada. O delegado titular de plantão, o doutor Raggio, olhava para os objetos pessoais dos agentes da Intempol espalhados sobre a mesa. Ele disse:

- Muito bem. Qual dos palhaços estava com o flagrante?

Um dos guardas respondeu, empurrando Macedo:

- Esse careca aqui. O outro estava limpo.

O delegado voltou-se para Sobrinho:

- Voce está liberado. O outro vai puxar uma etapa por aqui. Antes, eu quero que vocês me expliquem que porra é essa - o delegado apontou para os cartões cronais e para as caixas.

Era agora ou nunca. Macedo foi mais rápido. Já que Sobrinho estava limpo e não seria preso, ele tinha de escapar de qualquer maneira. Conteve o parceiro com o braço e se adiantou até a mesa.

- Pode deixar que eu mostro, doutor. É apenas um aparelho novo que estamos testando. Serve para fazer compras debitando o dinheiro direto da conta do usuário, usando esse cartão. Macedo pegou o seu cartão e a caixa. Continuou:

- A gente digita aqui o valor, o código do produto, passa o cartão nessa fenda e... Sobrinho gritou:

- Espere aí, Macedo!

Macedo fechou os olhos e preparou-se para apertar o botão que o faria sumir dali. Armou uma pose teatral para uma saída em grande estilo e apertou o botão.

Abriu os olhos e teve um choque. Lá estava o doutor Raggio, de braços cruzados, olhando fixamente para ele. Desesperado, Macedo apertou outra e mais uma vez o botão, com o mesmo resultado. Enquanto Macedo martelava o botão alucinado, com o rosto transfigurado, o delegado disse:

- E então? Só isso? Muito bem. Podem recolher o elemento!

Macedo quase desmaiou. O que teria acontecido? Seu cartão não funcionava! Alguma coisa estava acontecendo e ele não sabia o que era. Talvez fosse parte da missão, e ele se agarrava a essa esperança. Sentiu-se desamparado. Em todas as missões, o cartão era sempre uma segurança, era sempre uma forma de escapar de qualquer perigo, e agora ele estava à mercê da linha normal de tempo, como todo mundo.

Sobrinho olhava tudo assustado, mas calado. Esperava que recuperasse o seu cartão quando fosse liberado e então testaria o seu funcionamento. Mas desconfiava que aquela não seria mesmo uma missão como todas as outras. Ainda assim, achava que tudo poderia estar correndo bem, que o caso não influenciaria o desfecho da missão descrita no seu memorando. Não fazia idéia do que tinha acontecido com o cartão de Macedo, mas se aquilo servisse para que a missão fosse cumprida, não via nenhum problema imediato.

Os dois agentes prestaram depoimento. Macedo foi fichado e arrastado à cela. Devolveram a Sobrinho os seus pertences e o liberaram. Sobrinho procurou um local discreto e parou para testar o seu cartão. Com as mãos trêmulas, digitou alguma data a êsmo e passou o cartão. Fechou os olhos com força, prendeu a respiração e apertou o botão.

Nada. Não se movera nem um segundo no tempo. Ele sentou-se na calçada e tentou pensar.

Em sua cela, Macedo também tentava pensar. Imaginava que não haveria problemas com o cartão de Sobrinho, e para escapar dali era preciso usar aquele cartão.

É claro! Tudo armado pela Intempol para garantir que Sobrinho fosse eliminado, sem o que Macedo ficaria preso para sempre no século vinte. Macedo tinha de eliminar Sobrinho pessoalmente para escapar, e achava que seu cartão não funcionaria enquanto Sobrinho estivesse vivo. A Intempol deve ter usado esse artifício para garantir o sucesso da missão. Mas havia dois problemas: o primeiro, como fugir da cadeia; e o segundo, bem pior: se não houvesse problemas com o cartão de Sobrinho, provavelmente ele já estaria longe dali. Mas poderia ser que ele voltasse para libertá-lo, o que seria a atitude mais correta para um agente responsável. E Sobrinho nada sabia sobre aquela história de ser assassinado naquela época.

Macedo encolheu-se num canto da cela e baixou a cabeça, desesperado. A única saída era acusar Sobrinho como cúmplice, e fazer com que ele fosse preso também. Então, acabaria pessoalmente com ele.

Sentado no meio-fio, Sobrinho tirou do bolso do paletó o memorando da supervisora Mariete com a sua missão e conferiu mais uma vez o conteúdo. Sim, lá estava escrito que Macedo seria assassinado e que ele deveria garantir que o destino se cumprisse. O memorando era exatamente igual ao de Macedo, somente as vítimas eram diferentes, mas nenhum dos dois jamais saberia disso. Macedo estava preso, e talvez fosse morto na prisão. Mas como Sobrinho voltaria? Tinha de eliminar pessoalmente Macedo para que o cartão funcionasse. Era a única esperança. Resolveu voltar à delegacia para tentar matar Macedo de algum modo e cumprir a missão.

Sobrinho foi autuado imediatamente. Macedo dissera ao delegado que a cocaína pertencia ao parceiro, e que ele era um traficante procurado e perigoso.

Os dois agentes pegaram trinta anos de cadeia, e no terceiro mês encarcerados mataram-se numa luta de estoques, encorajados pelos companheiros de cela.

Em seu gabinete, a supervisora Mariete conferia no monitor as condições daquela LT. Perfeito. Tudo funcionara às mil maravilhas. Macedo e Sobrinho nunca voltariam a ser agentes da Intempol, tinham se matado em 1998, numa briga feroz na penitenciária. Seus cartões e registros nos computadores da Intempol estavam inutilizados e jamais funcionariam outra vez.

Ela riscou mais um dia na folhinha e se preparou para ir para casa. Aquele dia tinha sido produtivo, ela estava cansada, mas satisfeita. Surpreendeu-se consigo mesma, rindo daqueles seus dois agentes que, mal ou bem, tinham completado a missão com sucesso.

Ajeitou o coque e os óculos, retocou a maquiagem e trancou a porta de seu gabinete. Enquanto descia pelo elevador, lembrou-se nostálgica de alguns livrinhos policiais que lera na juventude e que tinham despertado a sua vocação. Vaidosa, pensou que tivesse enfim cometido o crime perfeito...

Contatos no Mundo: entrevista com Felipe Sobreiro


Dono de traço personalíssimo, esse brasileiro de então 22 anos, criado em Bogotá e residente em Brasília está ganhando o mundo, tendo publicado em países tão díspares quanto México, EUA, Espanha e Inglaterra. Agora, enquanto prepara a conquista do planeta, começa a descobrir as possibilidades dos quadrinhos brasileiros com parceiros talentosos como Abs Moraes e Hector Lima.

Usando a internet como meio de divulgação – tanto individualmente quanto em grupo, no multinacional URBAN DREAMS, Felipe Sobreiro já conseguiu o que muitos quadrinistas com mais estrada sonham: reconhecimento e um plano de carreira internacional.


***

OCTAVIO ARAGÃO – Você é o único brasileiro envolvido no grupo que desenvolve o projeto latino americano de quadrinhos divulgado pela rede, URBAN DREAMS. Como foi esse contato? Afinal, sabemos que não há uma interação muito azeitada entre o Brasil e seus vizinhos hispânicos no que diz respeito à arte seqüencial...

FELIPE SOBREIRO – Desde aproximadamente uns quatro anos atrás tenho estado em contato direto a través da Internet com muitos criadores de quadrinhos do mundo todo. O fórum que me pareceu mais interessante e onde comecei a discutir sobre o ofício foi Monos & Moneros, de desenhistas, escritores e leitores mexicanos. Os pesos pesados das HQs mexicanas, gente como Bachan, Edgar Clément, Oscar Gonzalez, Carlos García Campillo e Edgar Delgado são membros freqüentes. Alguns escritores se interessaram pelo meu material e desenvolvi com eles meus primeiros quadrinhos. Por ter vivido toda minha infância e adolescência na Colômbia, minha cultura é muito mais próxima da dos mexicanos do que da dos brasileiros, a pesar de eu e toda minha família sermos daqui, por isso a comunicação na hora de desenvolver os projetos fluiu naturalmente. Só muito tempo depois foi que comecei a expandir os meus horizontes e a conhecer em fórums similares outros autores do resto do mundo - e do Brasil.


OA – Sua cultura literária parece muito mais vasta e ampla que a da maioria de seus contemporâneos, com quadrinhos baseados em Julio Cortázar, por exemplo. Como resolve seus roteiros? São escritos por você mesmo ou lança mão de roteiristas?

FS – Eu não diria "muito mais vasta". Seria um exagero... O que acontece é que desde pequeno fui bastante introvertido e lia muito mais do que as crianças da minha idade. A minha família é de leitores e nesse ambiente fui desenvolvendo o meu 'vício'. Com o tempo, o gosto evoluiu e me interessei especialmente pelos autores do "boom" latino-americano da segunda metade do século XX, e tinha à minha disposição livros de Mario Benedetti, Julio Cortázar, García Márquez, Álvaro Mutis, Mario Vargas Llosa. Depois passei a me interessar pela filosofia, inclusive fiz um ano e meio na Universidad Nacional de Bogotá, mas finalmente a veia artística falou mais alto.

Até agora tenho feito quadrinhos sempre com roteiros alheios, tenho algumas idéias próprias, mas passei muito tempo sem escrever ficção e fiquei atrofiado. Lentamente estou elaborando uma história da série de Poe & Philips, que quero eventualmente escrever e ilustrar. Outro projeto futuro que tenho em mente é uma adaptação da peça PEDRO Y EL CAPITAN, de Mario Benedetti, mas isso por agora é apenas um sonho.



OA – Sabemos que você vem desenvolvendo HQs para o México, EUA, Espanha e Inglaterra. Esse retorno e contatos lucrativos são oriundos da exposição de seu trabalho no URBAN DREAMS?

FS - Na verdade, não. Os contatos, como mencionei acima, vieram da interação com outros criadores em fórums e como resultado da exposição dos trabalhos nos diversos sites onde eles estão disponíveis e do meu próprio site. A URBAN DREAMS foi feita em 80% por autores que são freqüentes do fórum de Monos & Moneros, e só entrou no mercado há aproximadamente um mês, na APE de São Francisco. Está à venda por agora no México somente, mas o editor, Santiago Casares, quer disponibilizar para outros países através do site.


OA – Fale um pouco de suas parcerias com Alex de Campi e Craig Gilmore.

FS – Alex de Campi me escreveu após ter visto meu site. Ela estava interessada em desenvolver um projeto para publicar na Europa. No início mantive o sigilo, mas ela mesma falou pro Rich Johnston, que falou pro mundo na sua coluna Lying in the Gutters, qual era o projeto: uma adaptação e modernização de Fausto, de Goethe. Estamos apenas nas fases iniciais, esboços, layouts, etc.

Craig Gilmore é um jovem escritor britânico, gostou muito de NIGHTMARE 17, que fiz com Adam White, e pediu pra desenvolver um quadrinho de 8 páginas, que estou desenhando muito devagar por causa do trabalho em FAUSTO. Vai ser o meu último quadrinho on-line - pelo menos até que eu me estabeleça no mercado profissional. Trata-se de uma série sobre um antigo assassino, agora velho e decadente. Puro humor negro.



OA – E o Brasil? Você ainda está radicado em Brasília, apesar de ter passado um certo tempo em Bogotá. Nenhum projeto eminentemente nacional em vista? Percebo que sua temática e referências estilísticas são mais universais que regionais. Onde entra o Brasil na sua alquimia profissional?

FS – Bom, em Brasília a 'cena de quadrinhos', até onde eu sei, não existe. Só há uma loja de HQs, onde os leitores encontram um pequeno oásis no meio do cerrado, mas ninguém parece estar produzindo nada. Eu morei 14 anos em Bogotá, como mencionei antes, e lá, apesar de pobre, se fazia alguma coisa de vez em quando. Aqui em Brasília simplesmente não conheço ninguém que faça quadrinhos. Então foi na internet que conheci os brasileiros com que trabalhei e estou trabalhando, Abs Moraes e Hector Lima.

Abs Moraes é um excelente escritor que, entre outras coisas, colabora freqüentemente no NonaArte. Já trabalhei com ele antes em REM, uma historia em prosa cujo prólogo em quadrinhos eu desenhei. Nos próximos meses vou fazer o primeiro capítulo de uma série do personagem curitibano O Gralha, para quem Abs já escreveu antes.

Conheci Hector Lima no extinto fórum do Warren Ellis, e, a pesar de nunca termos feito nada juntos, sempre conversamos bastante no seu próprio fórum, onde até o Abs participa de vez em quando. O projeto com ele, DESPERTAR VERDE, é uma HQ sobre seres alienígenas, e já há uma pequena amostra na internet .

Divisão E&M: conto de Luiz Felipe Vasques

EXAME E MONITORAMENTO
... você não vai querer topar com esses caras. Vai por mim, eu sei do que estou falando. Tem um cigarro? É, eu sei que você não tem a menor idéia de onde você está, pra início de conversa. Às vezes é assim. Quanto mais ouvir falar neles. Divisão EM. Exame e Monitoramento. Eufemismo pra polícia secreta, assuntos internos, P2 mesmo. Claro, a gente tem um monte de apelidos pra eles, de Execução 'Mediata' até Expresso da Morte. Extorsão e Mutreta também cai bem. Sabe, eu encontrei eles uma vez. Por isso que estou aqui. Rolava o seguinte: era uma pequena sacanagem que eu mais uns parceiros meus tínhamos: nas LTAs que íamos, a gente dava um jeitinho de se alongar mais nas missões e levar algumas lembrancinhas pra casa, especialmente das LTAs que iriam ser apagadas da existência. A Mona Lisa pode ser um quadro valioso, mas vale tanto quanto figurinha de chiclete quando vc tem à disposição seiscentas delas, mas apenas em tese: todo mundo quer ter a sua própria e autêntica Mona Lisa. E isso gera uma especulação em cima, sacou? Especialmente quando o transporte de objetos é proibido pelas normas da casa. E mais ainda, quando a autêntica Mona Lisa que você encontra deu uma zorra dum fungo qualquer no pigmento da tinta e ela tá verde. Sacou? Uma tela meio pequena duma mulher marciana, com um meio-sorriso besta. Cara, você não sabe o quanto isso vale...! Mesmo que, novamente, você possa ter seiscentas dessas.

EXTORSÃO E MUTRETA
E aí que rolava... não me olha com essa cara de quem não tá entendo não, depois piora, tá?, já vou te avisando logo... não sei o que você fez, mas aqui é bom a gente tudo ser amigo, sem problemas. Eu já tô aqui há algum tempo, cola na minha, que tudo vai ficar bem pra você. Uma das regras de cortesia é oferecer cigarros, aliás. Tem outro desses? Obrigado... que marca é essa? Não conhecia, não deve ser do meu tempo. Mas o que é que eu tava falando... ah, tá. Mas aí era o seguinte, tinha eu, compadre Bravo, Tango e Charlie... Que foi? Tudo codinome, por mim continua assim, se não se importa. A gente tinha um esquema com um sujeito lá em cima que gostava de dar presentes bacanas aos amigos. Mesmo aos amigos por fora do grande esquema de viagens no tempo, da Empresa. Quadros em versão 'alternativa', ou cópias bem-feitas. Sei lá qual era a do cara, além dum senso de preservação esquisito. Mas de qualquer forma, é aquele esquema que nem lá no leilão: alguns objetos que acabam sendo adquiridos como provas de investigação acabam sendo depois leiloados, se a LTA... Linha Temporal Alternativa... calma, filho, você chega lá... em suma, são leiloados se o universo de onde vieram não existir mais, se existirem, elas são retornadas se possíveis, etc. Sacou? E esse camarada... acho que outros até, mas isso não sei... não quer saber de leilão coisa nenhuma: ele quer é dar presentes com jeito de caro pros amigos, na satisfação interna e solitária de que só ele sabe o que eles têm na verdade. Cada um na sua, o por fora era bom, foda-se.

Aí... a gente recebeu um chamado via interna, todo mundo, no melhor estilo 'eu sei o que vocês fizeram no verão passado'. Porra, deu uma merda fudida. O Bravo ficou bravo mesmo, Charlie queria sair dando tiro, o Tango tava catando alguma época perdida e num lugar longe de tudo pra gente se enfiar. Juro que ouvi o covarde dizendo algo como opção 'a Ponte de Bering'. Sacou, né? O chamado era uma mensagem sem remetente de forma alguma. E não foi a única. Por um mês a gente recebeu umas quatro delas, até quando estávamos em missão oficial. A gente quase fracassou no que fazia, gerando até uma LT processo. Porra, os supervisores queriam comer o nosso rabo!... Mas pelo menos deu a suspeita pra gente de que isso era nego de gente lá em cima, querendo ferrar nossa operação. Contatar nosso 'amigo' nem pensar, se fizesse isso nossa próxima missão ia ser em Pompéia, Krakatoa, Hiroshima, alguma merda dessas.

Finalmente, os putos deram as caras. Mandaram umas coordenadas, passamos os cartões cronais nas nossas caixinhas e... o quê? Ah, ligamos nossa máquina do tempo e fomos lá. Paramos numa sala escura pacas, e a primeira coisa que deu pra notar é que nossa Caixa Registradora perdeu o sinal. Nossa Ca... nossa máquina do tempo parou, ok? É, não funcionava. Aí nós quatro só esperamos o barulho de metraca por uns cinco minutos, até que uma voz distorcida veio por algum alto-falante. Meu, era de deixar Darth Vader parecendo soprano. A voz dizia que sabia quem a gente era, o que andava fazendo, etc. e tal. E que agora ou a gente comia na mão deles, ou, gente passaria a não mais existir, na melhor das hipóteses. O que é o seu caso, provavelmente, já que você tá aqui. Ah, porra, não começa a chorar... caralho, detesto ver homem chorando e... pronto, toma um lenço. Calma, calma... não, não precisa se desculpar, apenas para de chorar, que... catzo. Ele é novato, gente, cês conhecem a rotina. Pronto, pronto... calma. E me dá mais um cigarro.

EXPRESSO DA MORTE
Porra, o que é que tem nesse cigarro, hein? É bom... xô vê a embalagem, o que é isso aqui? Nicotina, Viciante II-B...? O Ministério do Bem-Estar Aprova O Uso Deste... bem, de qualquer forma... acalmou? Ok, ok... de nada, esquece essa porra. Enfim... quiéque eu tava falando...? Ah...! Putz, nos ferraram direitinho. E só tava começando. A gente começou a saltar em missões pra dentro daquelas LTs que nós mesmos tínhamos gerado, e pegar lances de novo. Entendeu? Alguém tinha sacado nosso esquema, e tava tentando obter um ganho com isso. Do nosso 'cliente', nunca mais vimos a fuça. E não tínhamos a menor idéia, somente suspeitas, de quem estava chantageando a gente. E os objetos eram estranhos pra caralho. Tipo, rolava um quadro ou outro, e tal. Até uma Mona Lisa, uma vez. Mas tinha lá uns lances esquisitos pra caralho, umas estatuazinhas sem-graça dumas ilhas no meio do nada, umas facas tortas numas ruínas na Índia, por aí vai. O Tango, que era metido a saber de coisas, ficava apavorado em algumas daquelas missões, mas não dizia exatamente do que é que era. Bravo dizia que aquilo era viadagem e pra ele parar com aquela merda. Pra mim isso não era o pior. O pior era umas missões que, dava pra sacar, era pra gerar mais LTs ainda, pra pegar às vezes os mesmos ítens. Mais LTs... na hora do processo, os babacas aproveitavam pra mostrar quem é que mandava. Eu mesmo matei minha mãe umas duas vezes.

EXECUÇÃO 'MEDIATA'
Hein? Desculpe, viajei. Não, tudo bem, é a fumaça do cigarro, fica com o lenço. Filhos da puta... mas, enfim... Aí a gente fez essas missões umas quase cem vezes, sei lá, perdi a conta. O esquema era bem-feito, nem constava de relatório, horário de partida ou chegada, nada. Aí as coisas foram ficando mais estrambóticas. Uma vez a gente tava na porra Egito Antigo, e tinha que tirar o topo de ouro duma daquelas pirâmides, vá tomar no rabo!... pelo menos tive a satisfação de dizer isso a eles, quando voltamos de mãos vazias. Não tínhamos equipamento especial, aliás pra nada. Sabe quanto pesa ouro, bicho? Porra!... nego sem noção, sei lá... os caram ficaram furiosos, e deu pra ver que eles tavam com alguma pressa de alguma merda. Mas aí deram o equipamento pra gente, quando a gente voltou encontrou um armamento da pesada. Entendeu? Ao invés de equipamento de transporte, os viados nos mandaram armas de extermínio em massa. Tá, isso ia ajudar contra os exércitos do Faraó, ou até contra o Egito Antigo inteiro, se bobear. Mas aí não podíamos ainda transportar aquela trolha. Discutimos pra cacete. O Bravo e eu queríamos pegar as armas, voltar naquela sala e, na esperança que eles não estivessem muito longe, passar fogo nas paredes ao redor e foda-se. Mas o Tango pra variar medrou, e o Charlie... porra, o Charlie tava mal. Tinha morto a filhinha dele com quatro anos umas três vezes. Detalhe que no Continuum, a filhinha dele tinha morrido de berço... filhas da puta!... Mas aí acabou que a gente tinha que dar um jeito.

Descemos aquela porra daquela planície inteira, saímos deitando morteiro no caminho. Voava pedaço de egípcio pra tudo quanto é lado, e a gente já sabia que lá vinha mais LT pra explorar depois. Chegamos até a pirâmide e subimos sem maiores problemas. Vinha mais guarda, e tome de fogo. Dali a pouco os caras tavam se ajoelhando pra gente, e o Tango veio com a idéia da gente dar ordem de descer com o cume de ouro pro chão. A gente fez se entender, acredite. A foda é que tava demorando, e quanto mais demorada a missão, maior a possibilidade de alguém lá do andar da D notar. D? Divisão D, de Delfos. Os que monitoram mesmo o destino do CET e quando surgem as LTs. Outra hora te conto dessa. Aí a gente pra variar não tava pensando porra nenhuma, não ia fazer a menor diferença se estivesse no cume ou no chão, mas aí o Bravo queria que queria aquela merda no chão e rápido. O resultado não deu outro. Ver aquele bico de ouro deslizando o lado da pirâmide atropelando sei lá quantos escravos no processo foi até engraçado. É, engraçado, cara, e aí? Me dá outro cigarro. Mas aí... acabou que o Tango deu um jeito lá, não entendi direito até agora, ninguém me explicou, e sinceramente acho que não quero saber. O Tango conseguiu ler alguma coisa da ponta de ouro da pirâmide, uns hieróglifos lá. Falava sobre finalmente entender o que realmente os antigos egípcios queriam como imortalidade, energia cronal não sei das quantas armazenada no bico, ressonância taquiônica das Caixas Registradoras, todo mundo passando o cartão no 3, e vambora. Fomos. Com o bico de ouro da pirâmide. E com as armas. Voltamos lá, na mesma sala escura de sempre. Ninguém falou conosco. Às vezes os viadinhos faziam isso. Dez minutos depois, a gente já querendo sentar o dedo nas paredes ao redor, as luzes da sala se acenderam. Deu pra ver que era muito maior até do que esperávamos, era um auditório até. Acho que era o 4C, imagina... Estávamos no palco, com a carga, e logo na nossa frente, na primeira fileira, vimos três sujeitos de Nível 3 e 4, que conhecíamos de vista. Os três com um buraco de bala no meio da testa.

EX MACHINA
Três cadáveres. 'Armaram de novo pra gente!', gritou Tango, que digitou qualquer merda na máquina e se picou, o filha da puta covarde. E não era só isso, tinha também um sujeito sentado logo ali ao lado, um cara pálido e magro, de terno escuro, óculos idem e uma Terminator na mão. Claro que o que tínhamos era pior do que qualquer Terminator, mas havia algo naquele cara que dizia que, se era pra usar algum equipamento, era melhor que fosse que nem o Tango fez. E era o que devíamos ter feito. O sujeito veio com uma fala mansa e educada, esclarecendo ser da Divisão de Exame & Monitoramento, declarando voz de prisão por contrabando temporal, cronocídio e sei lá mais o quê. Bravo não se furtou ao que havíamos entendido sobre linguagem corporal, e ergueu o lança-morteiro pra ele. Antes que firmasse qualquer coisa, tinha uma bala no meio da testa. Sobramos eu e Charlie, provando ser mais espertos do que a maioria dos ursos. Não mais do que Tango, claro, que deve estar gelando o rabo na Ponte de Bering, duas Eras Glaciais atrás. Ao menos acho que foi para lá. É sim, seria um bom começo onde procurá-lo. E é claro que a essa altura se você me agradece é porquê deve ser da Divisão EM, acertei? E aposto que essa porra desse cigarro ajuda a soltar a língua mais fácil e sutilmente do que sessões de porrada e soros da verdade. Filho da puta. Bem, se encontrarem o Tango, apenas diga que não foi intencional, se me puder fazer esse favor: eu apenas me deparei com alguém que definitivamente eu nunca mais quero encontrar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Levantando o lençol da Realidade: entrevista com J. J. Veiga


J. J. Veiga, autor de vários livros de realismo fantástico como Os Cavalinhos de Platiplanto e A Hora dos Ruminantes, deu sua penúltima entrevista, em 1999, antes de falecer no ano seguinte, ao fanzine Megalon. Republicada no site original da Intempol e agora no IntemBlog, podemos rever o depoimento do mestre sobre a literatura fantástica no Brasil, suas influências e seu processo criativo.

***

Octavio Aragão: - Vou começar perguntando uma coisa básica para o Sr.: sobre os caminhos de composição. Qual a diferença de raciocínio para a composição do conto, da novela e do romance?

J.J Veiga: - Vou falar do ponto de vista pessoal mesmo: não tenho nenhuma teoria a não ser a que criei pra mim mesmo. Não conheço outra. Eu tive que desenvolver essa para mim. Eu tenho um assunto, me empolgo com ele. A primeira idéia é algo grande, fazer um romance. Então, eu fico com aquilo na cabeça, vou pensando, como quem puxa um fio, né? Vou puxando ali, aqui e vai entrando até dizer: “isso tá bom, isso dá”. Se o asssunto cresce, penso: “vai dar romance”. Outros, não crescem. Acho que vai do assunto ou de cada pessoa.

Cada assunto tem um tamanho, quer dizer: para a obra realizada, existe um tamanho. Não adianta você forçar, botar coisa demais só para fazer livros grandes, porque fica sobrando, não encaixa. Para mim, é o tema que determina a extensão da obra, ou pode ser também da minha situação, minha fase mental. O assunto é quem me diz se vai sair uma coisa maior, um romance, se vai sair um conto... é assim: “para fazer um romance daqui, eu teria que enfeitar demais, eu teria que criar coisas e ficariam sobrando”.

E isso todo mundo percebe, né? Mesmo sem saber bem o por quê, as pessoas não gostam.

Então é isso: passo uns dias com o assunto, vou desenvolvendo. Antes de sentar e começar a escrever, penso em tudo e faço um roteiro simples. Quando sento para escrever, já é com aquele roteiro, aquele mapa, diante de mim. O que não quer dizer que eu siga aquilo à risca. Lá adiante, em determinada passagem, me vem uma idéia que não tinha vindo antes que é boa , então eu a adoto e, às vezes, isso me obriga a me afastar do roteiro, tomando outros caminhos. Posso lá adiante cortar ou fazer modificações, mas é assim que eu trabalho. Não tenho um esquema para tudo, não . Como já disse, o tema é quem me guia, depois de pensar nele vários dias. Às vezes me pego sozinho e aí é que vejo o que a história pode me dar, depois vou programar aquele roteiro que falei e atacar.


Fábio Fernandes:- Dependendo do assunto, o Sr. costuma fazer muita pesquisa?

JJV: - Dependendo do assunto, sim. Por exemplo: para escrever A Casca da Serpente , que trata de Canudos - não sei se conhecem esse livro - eu tive que reler Os Sertões, de Euclides da Cunha, que havia lido na juventude, para me botar em dia, pois se basear só na memória não dá. Tem que fazer uma pesquisa.

OA: - Qual o encadeamento de eventos na hora de escrever? O Sr. obedece alguma regra ou intuição? Em que ponto o romance ou conto se torna algo dentro da linha do fantástico ou se mantém realista? É na hora da concepção inicial?

JJV: - Acho é desde o início. Na maneira de ver, encarar e de entender o mundo e as coisas. Acho também que, além do que nós estamos vendo aqui na superfície, por trás, por baixo, tem muita coisa que as pessoas comuns não vêem. Cabe ao escritor a obrigação de leventar o lençol da Realidade e olhar mais a fundo. Ir além. Então, esse 'querer ver além' é que é interpretado como fantástico. As pessoas pensam: 'Se não tô vendo, é fantástico'. Mas, se olhassem bem, veriam que não é nada fantástico, são pequenas coisas quase imperceptíveis que compõem a Realidade, fazem parte do real que está aí. Apenas não está gritante, não está berrante, é uma camada mais profunda.

OA: - No caso da A Hora dos Ruminantes, isso fica bem claro. Se o leitor parar e pensar bem, seguir todas as pistas, não há nada de tão sobrenatural, não é mesmo?

JJV: - Exato. É o que está acontendo todo dia. Coisas incríveis acontecem, ainda mais no nosso mundo Latino Americano e 3º mundo em geral, né? Coisas que em outros países já estão resolvidas a séculos, nós ainda lutamos para conquistar. Essas são 'as coisas fantásticas'.

OA: - A literatura fantástica é atribuída geralmente aos latinos, apesar de outras nacionalidades praticarem outro tipo de
fantástico. A que o Sr. atribuiria isso?

JJV: - É uma coisa muito antiga... do século passado na Europa, mas era mais fantasmagórica do que fantástico propriamente dito. É o nosso mundo que, para os olhos europeus, é fantástico. Nós é que devemos olhar para ele (o Nosso Mundo) e contar, escrever sobre as coisas que acontecem aqui. É isso: a diferença de visão. Por exemplo: ainda hoje você convive com leprosos, no entanto, na Europa é mais uma palavra que você dificilmente ouve, pois já está resolvidomdesde a séculos, tem em livros de histórias, coisas antigas e tal. Aqui há em nosso convívio. Não é fantástico?

FF: - Mostrar esse real (fantástico) é uma maneira de apontar as mazelas do país?

JJV: - É uma maneira de mostrar, sim. Mas acontece que a maioria das pessoas não está muito interessada em saber disso. Sempre há um grupo, uns poucos, que se interessam por esse trabalho que a gente faz. Vocês, por exemplo, que entenderam Ruminantes, são pessoas que querem ver mais. Mas, não são parte do pessoal que está ali na superfície.

E há diferenças entre os autores. O Murilo Rubião, por exemplo, é, para mim, mais surrealista. Escreve sobre coisas que só existem na imaginação dele e não sobre o que está aí para se ver. Não estou falando sobre qualidade. Ele é bom, mas tem outro estilo.

OA: - Tem uma dúvida que me assombra: o Brasil de hoje cai mais para o 'fantástico' ou mais para o 'aterrorizante' em comparação ao Brasil de ontem?

JJV: - Olha eu não sei se a minha opinão é válida, pois você tem que levar em conta o elemento idade, mas eu acho mais aterrorizante, sim.

Por exemplo, eu dos anos 70 aos 90, todo ano tirava férias - em 70 eu já tinha 60 anos! - ia para Góias dirigindo sozinho. Minha mulher sempre dizia que iria no próximo ano, mas nunca me acompanhou. Durante todos esses anos tirava férias em abril, pegava o carro, começava por Brasília, onde tenho irmãos, ficava lá um ou dois dias com eles e depois saia dirigindo por estradas de terra, visitando parentes e amigos no interior. Ficava por lá cerca de um mês. Meus irmãos ficavam apavoradas, pois eu dava carona às pessoas na estrada. Eles me diziam: “Não faça isso! Você nem devia vir de carro, muito menos dar carona!”. Eu dava ou não, conforme a cara e o jeito das pessoas. Nunca me aconteceu nada. Hoje em dia, eu não faria mais isso de jeito nenhum, nem que tivesse 20 anos! A situação não está para brincadeiras, não.(risos)

OA: - O que é uma coisa muito curiosa, não acha? Nós tivemos várias ditaduras, várias situações de extrema crise econômica, sempre houve miséria de uma forma ou de outra, desde o descobrimento do país. No entanto, eu sinto que agora as pessoas estão muito mais aterrorizadas.

JJV: - Eu sou do tempo que havia mais respeito ao cidadão do que há hoje. Meu primeiro emprego, no Rio de Janeiro, quando cheguei aqui aos 20 anos, foi de propagandista de laboratório de remédios. Eu precisava procurar médicos em ambulatórios e consultórios para vender os remédios. Eu achava médicos em lugares chamados Centros de Saúde, mantidos pela prefeitura.

Cada bairro tinha o seu e, dependendo do bairro, às vezes havia mais de um. Esses Centros funcionavam geralmente em sobrados. No andar de baixo atendiam às emergências e, em cima, tinha um salão com os médicos.

Você chegava, se sentava ali e ficava esperando até ser atendido. A mesma coisa acontece hoje, nos consultórios, mas você paga R$ 100,00 a R$ 200,00 por uma consulta particular e fica sentado lá esperando. Nunca te atendem na hora! Você marca para 2:00 hrs mas o médico atrasa e as pessoas ficam lá, sentadas, esperando a vez. Pensem nisso: hoje é impossível manter um lugar como esses Centros de Saúde sustentado pelo governo municipal. Acho que vocês foram os mais sacrificados.


OA: - O Sr. acha que o fantástico é muitas vezes usado como facilitação? Quer dizer, em determinado ponto da narrativa, o autor se vê num beco sem saída apelando para uma finalização simplista e, quando questionado, explica 'isso é uma história fantástica, sem compromissos com a Realidade'. Isso acontece muitas vezes?

JJV: - É, realmente facilita... para o camarada que quer trabalhar pelo lado facilitário. Será que isso prevalece, dura? Acho que não.

Sei lá... eu comecei a publicar livros depois dos 40 anos (o que não quer dizer que eu tivesse começado a escrever dentro disso. Escrevo desde adolescente! Eram exercícios que eu fiz e que me ajudaram muito. Só que eram como um tesouro secreto), mas sempre me preocupei muito com isso... se estou caindo na saída fácil. Me vigio, me policio muito. Penso: “isso aqui tá bonito, mas muito fácil. Vamos ver isso de novo, reexaminar, botar um microscópio para ver em profundidade.” Por isso eu demoro para publicar um livro.

Depois que me aposentei é que publiquei com mais frequência. Até então, demorava anos de um livro para outro. Eu me obrigo a fazer várias leituras, várias versões... até chegar ao ponto em que... (sorriso)... bom, não sei se chego ao ponto ideal, mesmo, ou se fico cansado de mexer e resolvo considerar pronto.


FF: - O que o Sr. está escrevendo agora?

JJV: - Agora não estou fazendo nada, só escrevendo um conto mensal para um jornal de Brasília: 'O Correio Brasiliense'. Isso porque vivi com boa saúde a vida inteira, até meados do ano passado. Fim do ano passado fiquei 2 meses internado no hospital tomando soro, depois alimentando artificialmente por sonda perdi 15 kg dos quais (já faz 3 meses que tive alta) só recuperei 3kg. Tão me devendo 12kg ainda (risos)! Estou muito fraco, nem tenho saído mais, não tenho muito equilíbrio, fico zonzo.

Assim, da maneira que estou, por enquanto, só faço esses contos. Parei durante a doença, depois telefonei para o jornal e, como eles ainda se interessavam em publicar, eu continuo. Asim, tenho algo para fazer no momento. Não sei se vou ter condições e tempo para fazer mais alguma coisa.

Assunto tem, né? Mas é preciso tempo e, mais do que isso, disposição. No momento, estou ainda convalescente.


FF: - O Sr., aproveitando esse tempo de convalescência, tem lido?

JJV: - Não, aí é que está! Estou numa apatia muito grande que tem me preocupado muito. Pego um livro para ver, leio umas páginas... não interessa, deixo para lá, pego outro, faço o mesmo. Nem ler eu tô conseguindo. Outras coisas, bobagens, coisas leves, que me mandam escritores novos, eu pego e leio para fazer a crítica para mim mesmo - continuo treinando, não é?

É isso. Estou doido para recuperar minha disposição e fazer alguma coisa.


OA: - Dos escritores novos, algum digno de nota?

JJV: -Tem aparecido gente nova muito boa. Um de São Paulo, não me lembro do nome dele agora, é muito bom. Me mandou um livro do qual gostei muito! Mandei até uma carta para animá-lo.

Também tô achando que agora não está difícil publicar como a uns dez atrás. Não sei explicar o fenomeno, se é porque tem mais editoras, ou qual é o motivo. Tem aparecido livros, é verdade, com edições bem menores.


FF: - Fazendo um parênteses aqui, eu li na biografia de Nelson Rodrigues, O Anjo Pornográfico, que nos anos 40 e 50 as tiragens eram coisas absurdas. Se faziam tiragens por exemplo de 10.000, 20.000.

JJV: - Era muito comum livros da José Olimpio com 30.000, 40.000 exemplares numa época em que a população era de 40 milhões - a quarta parte da de hoje! A porcentagem de analfabetismo era maior também e o camarada vendia junto com a editora, que tirava 40.000 exemplares de um livro. Mas também a quantidade de livrarias que tinha no Rio de Janeiro era impressionante! No Centro da Cidade, por exemplo, a Rua São José era só de livrarias de ponta a ponta e dos dois lados. Na Avenida Rio Branco havia várias, no edifício Central, onde os bondes faziam a volta, tinha uma porção de livrarias pequenas... Era impressionante, mesmo!

FF: - Agora, uma pergunta meio comum, mas necessária: quais suas influências?

JJV: - Ah... O Veríssimo. Quando eu li a prosa do Érico Veríssimo, aquele estilo de quem está conversando com a gente, eu falei pra mim mesmo: eu quero escrever como esse sujeito! Até então eu era exagerado, perdia muito tempo com floreios e excessos estilísticos... Foi com ele que aprendi a escrever como quem está batendo um papo com o leitor. Outro foi o Kafka, em termos de estrutura. Mesmo quando as histórias dele parecem inacabadas, são irretocáveis.

FF: - E o folhetim? Publicações em forma de seriado? O senhor costumava ler?

JJV: - Costumava ler, sim. Os folhetins da época eram sempre publicados em jornais e eu gostava muito daqueles finais em suspense, com o herói pendurado na beira do precipício...

FF: - ... como no inglês: 'cliffhanger'!

JJV: - (risos) Isso! Eu gostava muito, mas não creio que tenha guardado muito daquilo. A não ser, talvez, no sentido da literatura como diversão.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A First Rate Roma Aeterna - Review of the Procurator Trilogy, by Gérson Lodi-Ribeiro

• Procurator
by Kirk Mitchell. Ace Books (1984). 234 pp. US$ 5.99. ISBN: 0-441-68029-1 (paperback).

• New Barbarians
by Kirk Mitchell. Ace Books (1986). 296 pp. US$ 5.99. ISBN: 0-441-57101-8 (paperback).

• Cry Republic
by Kirk Mitchell. Ace Books (1989). 267 pp. US$ 5.99. ISBN: 0-441-12389-9 (paperback)


Once upon a time, some twenty years ago, alternate history wasn't so fashionable as it is today. In that time, when Harry Turtledove didn't use to write alternate history yet (in the early 1980's he was rather wr iting sf short fiction and historical fantasy novels, as his original Videssos tetralogy), na American author, Kirk Mitchell published Procurator (1984), the first novel of an alternate history trilogy, where the Roman Empire survived until present day.

Although it is a "Roma Aeterna", this ATL created by Mitchell doesn't qualify as a "Roman World State". Because, with the exception of Germania, Parthia and the Roman provinces in North America, this alternative empire occupies roughly the same borders it filled up in its OTL's apex.

The point of divergence was in 9 A.D., when the Roman legions commanded by governor Publius Quintilius Varus defeat the German army led by Arminius in the Teutoburg Wald. Once conquered and pacified, Germania becomes a province so prosperous and loyal as Greece or Gaul.

Some years later, as Germania stayed quiet and pacific, Varus' victorious legions were transferred to the rebellious province of Judea. Stronger and more confident in that province, the Romans succeed in putting down the Hebrew rebellions without any difficulties. Pontius Pilate even indulged in sparing Jesus Christ's life, so avoiding the emergence of a new religious martyr and, of course, the very birth of the Christianism.

Without the explicit barbarian menace in the Northern Europe, and also without another, subtler and more insidious threat presented by Christian's faith, the Empire barely survives up to the present day. Once conquered, Parthia becomes the more western province the Roman world. Armorers begin to manufacture gunpowder and firearms some centuries ago. Finally, at the present (circa 2,750 years after Rome's foundation), a genius-emperor establishes the fundaments of scientific method, applying the resulting technology to build steam engines.

Thanks to the innovations of this monarch-scientist, the Empire finally has its Industrial Revolution, finishing two millennia of social deep-freezing. Less than one quarter of a century later, electric bulb and internal combustion engine are invented. Huge pipelines are built to pump petroleum from Arabian and Parthian oil fields to the Italian refineries, in order to keep Roman main industrial complex running, in an Italian Peninsula whose population is nearly 200 million.
Roman steamships arrive in North America. The Romans turn the Viking settlers they found in Nova Scandia (New Scotland in OTL) their vassals and created two new provinces in Eastern North America.

However, there are more than mere barbarian cultures outside Roman borders. In the Far East, the Serican Empire (from Latin, meaning "Silk Empire"; a.k.a. alternate Chinese) seems to be more prosperous and advanced than the Roman Empire. While in America, at the south of the Roman province of Nova Baetica, the Aztec Empire is still flourishing seven centuries after its foundation. Aztec fast pace industrialization begins to upset both the Roman settlers and their vassals and allies.
This is the complex alternate scenario where Mitchell's first novel begins. Thus, Procurator is an alternate present novel.

-oOo-

Germanicus Iulius Agricola, a distant cousin of the emperor-scientist Fabius, is the procurator referred in the first novel's title. In the alternate Roman meaning of this term (though not in the OTL Roman meaning), "procurator" is a military governor appointed directly by Caesar to rule a province far from Rome or a province which administration is particularly troublesome. In the present case, Germanicus is the procurator of Anatolia (a region corresponding to present-day Turkey in OTL), one of the more eastern provinces of the empire.
The most serious matter in Roman Anatolia is the upheaval caused by a religious fanactical sect , whose priests have the power to kill their enemies with the sheer force of their will. Those priests incite the Anatolian population to rebel against Roman yoke.
Even more serious than the mysterious homicides themselves (both Roman military and Anatolian citizenry who sympathize with Roman rule are murdered by the will power of the religious leaders), the incentive given by the priests to terrorist groups threats to paralyze empire's industrial complex, as those groups intend to cripple the Great Artery, the huge pipeline which carry the Anatolian oil to Italy.
Germanicus counts on two colonels to help him to overcome the crisis. Both of them are from barbarian stock, though supposedly Romanized: Marcellus, a sensuous and vibrant Parthian; and Crispa, a beautiful and self-restrained Scandian female officer. Mitchell establishes a charming triangle among these three characters, where Crispa has to choose between her true love towards the Roman procurator and her strong physical attraction by the Parthian colonel. This emotional struggle worsens, becoming an authentic conflict of opposite fielties, as these three characters align differently in the political plot schemed by the very empress to kill not only her husband, but also all the members of Iulius clan who are still loyal to the emperor.
Aiming to cut the rebellion by its roots, Germanicus and his army travel east by rail-galley (train) to a military base in Eastern Anatolia, in the very frontier between the Roman Empire and the Barbarian World. Once there, Germanicus meets Poppaeus, probably the most corrupt and degenerate commanding officer of the whole empire. The religious sect adepts members erected their holy sanctuary city in Agri Dagi, a high mountain near the Roman base. Commanding a small platoon, the procurator climbs the mountain. The rebels kill all the platoon members, but Germanicus, who is taken prisoner.
Once in the holy city, the procurator meets the Zaim, the highest priest of that sect. These two men - not only enemies, but truly aliens to each other - succeed in establishing a link made of mutual respect and confidence, and they become friends in the end, so creating a bridge of understanding between their different worldviews, which had seemed to be contrary and irreconcilable before their meeting. Mitchell was very ingenious in the building of this gradual evolution, from mutual incomprehension towards sincere friendship and acknowledge of the existence of deep common interests among Romans and Muslims, in spite of the different ways of living which separate them.
However solid, this friendship between Germanicus and the Zaim is not enough to avoid the severe rebel attack against the Roman base. An attack that blows almost simultaneously to the coup d'état led by the regicide empress. These twin conflicts - one inside and the other outside the Roman base walls - prepare the reader to the real climax of this first novel.
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As second novel of Mitchell's trilogy, New Barbarians (1986) answers the question every AH buff already asked sometime, especially those who love the Roma Aeterna scenarios: what if the Roman settlers in America engage in a confrontation against the Mesoamerican civilizations? Although this answer was already outlined by several authors , it was never accomplished so masterfully before as Mitchell did in this second novel. In my opinion, it is the title of the trilogy. By the way, it's an interesting exception, because second novels are usually the weakest of most trilogies.
In its essence, New Barbarians is an alternate war novel. It is the story of the modern warfare between a Roman expeditionary force (outfitted with sand-galleys, armored combat vehicles larger and more versatile than OTL tanks) and the Aztec army (equipped with rifles and cannons). However, this novel is also a love story of sorts: the story of the affair between two lovers belonging to different worlds. Germanicus, now Roman emperor, falls in love with (and has his passion responded by) Alope, the former Anasazi ambassador in the court of elderly tlatoani Maxtla III, in Tenochtitlán.
A treacherous Aztec attack against the Roman province of Nova Baetica (roughly equivalent to the U.S. from the Atlantic Ocean to the Mississippi, except Florida) forces Caesar Germanicus to declare war to the Aztec Empire.
After being defeated in a great naval battle in Mare Aztecum (Gulf of Mexico in OTL), the Roman fleet's remaining ships finally succeed in disembarking the expeditionary force commanded by Germanicus in Otacilium, Nova Baetica's capital.
In spite of having been planned as a mere defensive action conceived to expel the Aztec invaders from Nova Baetica, the conflict escalated fast to a total war, as Caesar watches with his very eyes the ritualistic human sacrifices of his legionaries, who were POW in the Aztec camps. So motivated, Germanicus allows Alope (to whom he is already enamored) to convince him to destroy the "evil empire".
Searching for allies, the Romans join to the braves of the Anasazi Confederation in a combined effort to take the war to its bitterest conclusion, in the very walls of Tenochtitlán - a vaster and more populous metropolis than Rome itself, and also a very well protected city, thanks to its almost inexpugnable insular location in the middle of Lake Texcoco.
Obviously, once started the campaign is much more arduous than it had been anticipated by naive Roman senators, when they endorsed the declaration of war. For this alternate Aztec Empire owns technology almost so advanced as the Roman one. Besides, as the Romans discover only after capturing Tora, a Nipponic military advisor, the impressively fast technological progress of the Aztecs is due to Serican Empire's support. It seems that the Sericans are inciting the Aztecs to wage war against the Romans. However, in spite of all their technological and military prowess, the Aztecs are still tangled by their ancient ritualistic practice of human sacrifices, which had characterized this culture in OTL's 16th century.
The climax of New Barbarians occurs in the Battle of Tenochtitlán.
On the whole, this novel is full of battle scenes of the exact kind every Roma Aeterna buffs always craved to read: the fiery struggle between the Roman legions and the Aztec troops.
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In Cry Republic (1989), the last novel of Mitchell's Roma Aeterna trilogy, emperor Germanicus Iulius Agricola Aztecus is overthrown by a coup d'état led by his very Praetorian Praefectus (commander of the Praetorian Guard, the elite bodyguard of a Roman emperor, approximately the size of a legion). The coup was motivated by Caesar's intention to restore the Republic, after two millennia of imperial rule.
In an occasion when the Southern Italy is afflicted once more by a volcanic eruption of Mount Vesuvius, Praetorian Praefectus Decimus Antonius Nepos, a Lusitanian-born Roman, joins forces to his lover Claudia Nero, a Messalina distant relative of Germanicus, in the attempt to overthrow from power the last Iulian emperor.
Germanicus is rescued at the eleventh hour by Centurion Rolf - the same Romanized German who has played the role of personal guardian angel to Germanicus since the times the latter was procurator - and by his Nipponic counsellor Tora. The Nipponic helps the dethroned emperor to flee from Rome to Illyria (OTL Albania) aboard an aircraft prototype purchased in the Serican Empire.
After aiding in the escape of Germanicus and Tora, Rolf evades to the ancient Teutoburg Wald sanctuary, in Germania's heartland. Once in the Wald, the former centurion receives the visit of a supposed ancestral deity, who urges him to claim the title of king of the Marcommani. As king, Rolf summons other German tribes to join the Marcommani in order to fight a war of attrition against the imperial legion that are loyal to the usurper couple.
Having been betrayed and almost captured several times, Germanicus finally travels aboard a merchant galley from the port of Corinth to the archaeological site of the ancient Troy.
Thanks to Anatolian Zaim's helping hand, Germanicus is carried safe and sound from the Anatolian shore to the province of Judea. In Jerusalem, he meets the only Roman general still loyal to his republican ideals who had survived to the political purge perpetrated by Nepos and Claudia.
Counting on the support of the Roman legion stationed in Judea and its Jewish auxiliary garrisons, Germanicus starts a counteroffensive to fight against usurpation. The following struggle spreads gradually along all the Roman provinces of North Africa and Middle East, which are reconquered by the increasing power of the forces that are loyal to Germanicus.
Those loyal provinces are not match, however, to the armored legions that Nepos has at his disposal. So, as a desperate measure, backed on the moral authority of last member of the clan who had ruled the Roman World for two millennia, Germanicus not only proclaims the Republic in abruptu, but also signs the universal manumission, freeing at once all the slaves in Urb et Orbis.
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As a whole, Kirk Mitchell's trilogy presents high quality alternate history, at least as good as the trilogies written by more renowned & recent authors - as Harry Turtledove and S.M. Stirling - who would explore the AH genre in the following decades. Besides enjoying the status of precursor, thirteen years after its conclusion, the trilogy started with Procurator remains by far as the best Roma Aeterna ever written.

Temporal Paradoxes in Science Fiction: an article by Eduardo Torres

It's well established that, at subatomic level, there is not preferential orientation for time, and that subatomic particles can be seen as suffering interactions and alterations that can be interpreted as going in positive or negative direction of time, with the same laws of nature being applied in each case. An 'intelligent' electron would be able to, therefore, discover ways to move forward or backward in time at ease.
Isaac Asimov

Of all the basic themes of science fiction, I think that of voyaging in the time is the most fundamental, the closest of the heart of the matter.
Stories of spaceships journeying toward distant suns, of flawless robots transforming human civilization, of mutants with strange mental or physical powers are all very fine so far as they go; but they are only aspects of the essential science-fiction thing, which for me it is to reveal the future. (...) …the stories of travel in the time gave me the future itself, the fundamental thing, the unattainable world to come. As a reader and then as a writer I was drawn constantly attracted to that.

Robert Silverberg

Imagination is more important than knowledge.
Albert Einstein

One complicated thing for SF readers aficionados of time travel is having to deal with temporal paradoxes. Don't misunderstand me. They are one of the most fascinating things in time travel stories. But they have to be treated with ability, otherwise we have the sensation of being cheated, or being abused in our good faith. Some authors dive deep in the paradoxes, without fear. Others avoid them, seeming intimidated. The thing is still more complex when we read books from different writers, because each one creates his own 'rule of the game' to handle the paradoxes. And sometimes the same author, in the same book, treats the same paradox in a different way.

I will try to expose in this article a summary of my ideas and impressions on the temporal paradoxes in science fiction, describing them and analysing how the theme was treated by three authors of SF: Robert Silverberg (Up the Line), Poul Anderson (The Guardians of Time) and Isaac Asimov (The End of Eternity).

Let's begin with Up the Line, where Silverberg goes deep into the paradoxes, getting to play with them. The narrative is made through the main character, a Time Courier (member of a organization specialized in temporal tourism). So, we go 'learning' with him about the paradoxes in his ' training' course. The Silverbergian paradoxes are:

1) Accumulation Paradox:
It happens when the same person leaves from several points in the timeline to the same point of the past. It happened a lot with the Time Couriers. There was one, for instance, that was specialized in tourist visits to Christ's crucifixion. He had already done that trip 22 times along several years. So we had 22 versions of that Courier at the same time attending the event. That paradox created other paradoxes. If all those trips happened and the basic principle of time travel is that the past, the present and the future are part of an only continuum, why all were not there all the time?
And, taking into account that the temporal tourism continued for the subsequent centuries, why there weren't hordes of thousands of tourists from the future attending the Crucifixion? Why was not that gigantic crowd registered in History? Silverberg makes all those inquiries through Jud Elliott (the new Courier). The solution? Silverberg doesn't give it. In the novel, that paradox stayed insoluble even for the best minds of the time (2059). Apparently they 'went happening' as they were 'introduced' in the continuum. Paradoxically, in the first trips of a Courier to a place where he would appear later, there were not copies initially. They went appearing in elapsing of 'time'. But what time? Would not time be one only thing? A continuum? Well, I think that's why Silverberg left that part unexplained: He must also have tied a knot in his head.

2) Transit Displacement Paradox:
Travelers to the past took with themselves their 'own time', as if they were 'encapsulated' in a bubble of the present time just as it existed in the occasion of their trip. That means that modifications of History subsequent to their trip could not reach them, since they stayed out of their temporal matrix (the present from where they left). So, you could kill your grandfather when he was still child. You would not stop existing immediately, only if you returned to the present, where you would not have more any temporal connection, since you would never have been born.

3) Discontinuity Paradox:
It happened when you found in the past somebody that left from a point of the future different from yours. He could not recognize you, because in his present you had not still found if. Or the opposite could happen. You could find somebody that left from a point ahead of your future, and that knew what will happen with you in the next months or even years. There was a rigid code of ethics followed by Couriers to avoid those contacts and, if they happened, to avoid any exchange of information. That paradox, for its turn, also opened other paradoxes. If all events are part of an only continuum, they always happened. So, when being presented in the distant past to somebody who you had already found before in the present, but you are knowing 'now' (in the distant past) coming from another point of future when you had not still been introduced, should he maintain memory of that previous encounter, isn't it? Later he would know you 'actually' in the present time of both. But would that first encounter always have happened, sure? Silverberg gives contradictory treatments to such paradoxes in the book. Just once happened a 'remembering', and even so in a vague way. In general, he passed the idea that those 'discontinuous meetings', just as in the Accumulation Paradox, seemed to happen in the past in ' parallel' with the present.

4) Duplication Paradox:
It happened in Silverberg's book when our hero Jud tried to avoid that a tourist used an altered timer to travel in time independently (the timers were stuck to the body by a plastic strip and the ones used by tourists were locked and they could only be operated by the Courier). The tourist was fast and jumped first in time. Then Jud went back some seconds in the past to try again, finding the tourist and his own version of some seconds before, when he had not still made the first attempt of stopping the undisciplined visitor. But the tourist was really smart and escaped again. And the first Jud, shocked by the sudden arrival of his future version, altered his actions and did not return to the past those same seconds, as he had done in the first time, altering History. Then the two Juds stayed, existing in parallel in the same time line, as permanent copies, just one having lived and possessing memories of some seconds more than the other. (Actually, Silverberg described just one of the two possible types of Duplication Paradox, in the case that we could classify as Duplication Paradox due to History Alteration. It also exists the Cumulative Duplication Paradox, as we will see ahead).

5) Final Paradox:
In the 'course' that expression was reserved for an event caused by a time traveler in the past that changed History so that the time travel were never discovered.

6) Law of Lesser Paradoxes:
Ingenious invention of Silverberg: When events could cause multiple paradoxes, it happened before the least unlikely (for instance: the Transit Displacement Paradox happened with precedence over the Final Paradox).

In that point it is convenient to explain that in Up the Line trips to the future were not possible. That is, you could return to the past, but you could only come back to the future until the date of the departure added to the 'absolut' time (or 'physiotime', to use the expression adopted by Isaac Asimov in the End of Eternity) that you spent in the past. Another limitation was that the 'timer', like the Time Machine of H. G. Wells, only allowed trips in time, not in space. So, the time traveler would have to do first a physical trip in the present to the destiny place and only then jump to the desired time.
The Time Courier was one of the divisions of the Time Service. The other was the Time Patrol, which function was to avoid any alteration of the temporal continuum. Those non- authorized alterations were considered time crimes, being the only case of capital punishment of the time.
Silverberg describes a flowing and editable past. Was there an accident with a temporal tourist during a trip? The Courier could return some minutes in time and avoid it. Of course the 'edition' would be forever registered in the temporal continuum, with two Couriers appearing simultaneously for some minutes (that practice was subject to sanctions by the Patrol).

The Time Patrol used that same fluidity of the past to correct the time crimes. Did anybody go back to the past to kill Mohammed before him creating Islamism or to poison Jesus Christ while child? The criminal was traced, located and impeded of doing the trip to the past immediately before commiting his crimes. All the resulting events of his actions turned non-events then. They never happened.
They were removed from the continuum and they didn't leave any consequence nor memories (except in those protected by the Transit Displacement Paradox).
The thing is becoming complicated, isn't it? And that Paradox of Retroactive Alteration of History opened, as always, other paradoxes. For instance, an alteration of the past in a key-point, like the murders of Mohammed or Jesus, would reflect immediately in the continuum? Would the present be immediately modified? The own time travel could stop existing? How would there be the subsequent correction by the Time Patrol if it had never been created? Silverberg adopts in that case a solution similar to the Accumulation and the Discontinuity Paradoxes, that is, the changes go 'propagating' in the continuum in 'parallel' with the present. But how, if everything is only one continuum? Jud himself wonders and he doesn't know the answer. We can observe here a lack of self-consistence in the book, because, in the mentioned case of the time traveler going to the past to kill his grandfather when child, Silverberg admits that his existence in the present would be canceled immediately. That event is even described as a suicide form adopted at that time (those time crimes were always discovered and reverted by the Time Patrol, but, as the criminal was executed, the transtemporal suicide ended well succeeded anyway). In Up the Line the murder of Jesus as a small boy (yes, it happened!) was discovered when a Courier was to take a group of tourists to the scene of the Crucifixion and he didn't see any Jesus there. Only the two thieves. The Patrol located the criminal and made the retroactive correction, avoiding that he traveled to the past to kill Jesus.
As Jesus was killed when he was 11 and the crime discovered when he was supposed to be 33, only 22 years were affected. And as the Christianity only provoked historical effects a long time after Christ's death, the alterations of the continuum were irrelevant. After the 'edition' by the Time Patrol, even those alterations were totally eliminated. The murderer? He was executed. Even with his victim 'resurrected' by the Time Patrol. Another interesting thing in the 'temporal rules of the game' of Silverberg: The Couriers could 'escape' during the trips. They could jump to other times for hours or days, to relax. And what about the poor tourists trapped in a distant past? The Couriers just had to go back some minutes after having departed. For all practical effects they had never been far for long.

Concerning the problem of the languages of past times, the Couriers, Patrolmen and tourists took fast hipno-courses before the trips or missions and they maintained perfect fluency for one or two months. I think Silverberg thought in almost all possible temporal paradoxes in Up the Line, and for that I extended more in the analysis of his book. Only two other paradoxical events were left out: The loops and the cumulative duplications. The first are of two types: The loops of temporal repetition and the loops of objects or people (sometimes called the 'Egg and Chicken' Paradoxes).

The loops of temporal repetition have been found more frequently in motion pictures. Those paradoxes happen when you travel in time not in the traditional way, with a physical transport to another moment of the past or of the future, but when you 'revive' several times a past time, like in the films Groundhog Day, 12:01 pm (TV short movie) and 12:01 pm (feature film). In stories involving loops of temporal repetition we have two paradoxes, one the time repetition itself, and the other the person (or people) that is (are) 'outside' the loop, keeping memories of the previous time loops and acting differently in each repetition loop. It's interesting that this temporal paradox can create comical stories, like Groundhog Day, and also anguishing terror tales, like 12:01 pm, the TV movie of 1990 that was the pioneer in the theme. The paradoxical loops of objects or people are more common in films as well. A very known one, in the modality object, appeared in the movie Somewhere in Past, based on the book by Richard Matheson, where the main character receives a clock from an old lady and he found out later that she was a lover that he met in a trip to the past. He ends up getting that time travel through a mental process, but it travels materially, leaving registrations in the past and, the most surprising, taking with him that same clock that he received from the old lady to give it to the same woman when she was a beautiful girl. Then he returns to the present. And she will always remember him and keep the clock to give him in the future when she finally meets her old/young love. What she only gets to do when she is already an old lady, closing the loop. The paradox here is: Who manufactured that clock? How did it appear in the temporal continuum if it begins and finishes in that transtemporal loop between the two lovers? Another film with paradoxical loop, this time of person, is The Terminator, where the leader of the human resistance in the future sends to the past a protector for his mother before him being born. And that protector ends up becoming his father. In other words, the leader's own existence in his present depended on him to send his future father to the past in such way this man could make pregnant his future mother, closing the loop.
In the sequel of that film we have a temporal loop of object, when it is revealed that the company that had created the technology that would generate the domain of the machines in the future actually based its researches in the chip and in the remaining components of the destroyed first Terminator, that, for its turn, was created as development of that same technology. Another famous example of 'temporal loop' in films appeared in the series of The Planet of Apes, where the son of a couple of apes coming from the future would come to lead the anthropoid revolt that would end up generating a world dominated by the apes, from where his own parents would arrive, in an infinite cycle.

The Cumulative Duplication Paradox can be considered a variation of the Accumulation Paradox, but with different characteristics. It is not very used in books of SF, or at least I have not found it frequently. It happens when we remove an object or person from a certain point in the time line and we transport them to the past (or other instant of time, depending on the author's transtemporal criteria). Later we return to one moment immediately previous to the first removal and we repeat the operation, placing the person or object near the first 'duplicate', being the two in the same time line. We can repeat that operation indefinitely, accumulating how many copies we want, starting from the 'original', always collecting some instants before the last removal. We could ask: Would not the second removal make the first to disappear, since only in a subsequent point of the time you transported the first object? Would you arrive there (in the removal or delivery point) and find nothing? No, because all removed objects would not be subject any more to subsequent alterations of History (like the successive removals), due to the fact that they would be out of their temporal matrix and protected by the Transit Displacement Paradox. Interesting way of becoming rich with a 100 dollars bill, isn't it? (Since, of course, that nobody notices the identical series numbers). We note that, in the duplication by alteration of History, as in Up the Line, the paradox happens because we alter our own course of time retroactively, doing, for some reason, our self to alter his past actions in such a way to follow a different path from wich he had proceeded previously and that had taken to the own altering action. In the cumulative duplication the duplicated entity is not the agent of the History alteration, but, as it is removed successively from several points to an only point of the time line, it happens a 'permanent accumulation', different from the accumulation of Up the Line, where, actually, there is a 'line' tying all copies, since it is the same person going and returning in successive time trips with several starting points and only one of arrival. We cannot trace that same line tying the objects removed from the time line in the Cumulative Duplication Paradox. A last comment about the cumulative duplication: In the Silverbergian temporal universe, that paradox would have two restrictions, firstly, the objects would have always to be transported to the past (there's no trips to 'absolute' future), and secondly, you could not take the objects back to the time from which they where removed. Why? Because it would happen with the copies the same that would happen to you if you came back to present from a trip to the past where you killed your grandfather when he was a child. You would stop existing. We have to have in mind that each successive removal of the object or person in a previous point of the time line altered their History, turning to non-events all previous removals, because the object or person would not be there to be removed. In other points of the time, all copies would be protected by the Transit Displacement Paradox, but if they returned to their original time matrix, they would disappear, just remaining an entity, the last one removed. We see therefore that the Silverbergian cumulative duplication doesn't violate the law of conservation of mass, although in other temporal universes this apparent violation occurs, as we will see later.

Let's talk now about Poul Anderson's The Guardians of Time: This is an excellent book of time travel, formed by five stories, but it doesn't have the same involvement with paradoxes as in Up the Line. Accumulation and Discontinuity Paradoxes aren't even imagined. It has also a Time Patrol that tries to maintain the continuum and has the power to correct the History retroactively, transforming eventual alterations in non-events, but the time trips don't show, in my opinion, all their paradoxical potential, at least not with the Silverberg's voluptuousness. Instead of timers stuck to the waist, Anderson's agents use vehicles (as in the Time Machine of H. G. Wells), but, besides of being more advanced (Anderson defines them as 'antigravity scooters'), they don't suffer the limitations imposed by Silverberg and Wells in their books, and can travel simultaneously to any instant of time and point of space. In the story 'Delenda Est' History is changed when the Roman general Scipio is killed by a temporal criminal before he can combat with success Hannibal, and, in consequence, Carthage defeats and razes Rome, radically altering the future. But, in other difference from Silverberg's intertemporal universe, Poul Anderson states that, in that case, History changes instantly, just preserving the agents that were traveling in time in points previous to the change. These, for their turn, also differently from the 'rules of the game'of Silverberg, were permanently encapsulated in their 'time bubble', even if they returned to the modified present, where they probably would not have existence, taking into account the historical alterations along millennia - what is actually as paradoxical as the solution proposed by Silverberg of 'slow propagation of changings'. On the other hand, Anderson makes the agents go frequently to the past, sometimes to tourist points like the 'Falls of Gibraltar' millions of years ago, without any discontinuity concerns. An academy of the Time Patrol exists in the Oligocenic period, but those problems don't show up either, even with agents coming from several points in the continuum to the same point in the past (those points were sometimes used for decades, which, theoretically, would allow a schedule, but that is not mentioned in the book).

The stories are very good and imaginative. Like Silverberg's Couriers, Anderson's Patrolmen could also 'escape' during missions. Actually, Anderson raised a point, not refered by Silverberg, that they could take several years of vacation between missions. How? It would be enough to come back at the exact time established for their report for the next duty. For all practical effects they would be accomplishing strictly their schedules (Anderson guarantees that the Patrolmen avoided those abuses). The Patrol sometimes ended up accepting a permanent History alteration, as when an agent assumes for years the role of the great Persian king Cyrus, and that period is not edited. But, if the continuum embraces all times, who could guarantee that this apparent alteration wouldn't be the 'true' History? That to maintain it wouldn't be to preserve the continuum? This, of course, introduces the Retroactive History Paradox, i.e., people of the future, that had not been born at the time of events already happened and historically registered, end up being revealed protagonists of those same events. We can interpret that paradox as a variant of the Loop Paradox or, if we prefer, a variant of the History Alteration Paradox, because the 'Retroactive History' is nothing more than a retroactive alteration of History that was not corrected, being incorporated permanently into the continuum. That opens even a philosophical discussion on what criteria would have to be used to define the 'true' History in a world where time travel were possible.

No Duplication Paradox appears in Anderson's book, but, if they happened, the Cumulative Duplication one would not suffer the restrictions imposed by Silverberg. As the trips to the future are not forbidden in the Andersonian universe, and the only demand to be protected by the Transit Displacement Paradox is to be in a point of time line before the alteration of History, it would be enough, after having concluded all the removals, to transport the duplicates to any desired point of the time line. It would not happen any more the disappearance of the copies, even if they were brought back to their original time, in an apparent violation of the law of conservation of mass. On the other hand (it seems that when we deal with temporal paradoxes there is always another hand), we can interpret the temporal continuum as an infinite succession of 'moments' - infinitesimals of time - each one with a 'copy' of everything that exists. In that case it would be pointless to reason if the Cumulative Duplication Paradox violates or not the law of conservation of mass.

We come now to the Good Doctor. The End of Eternity is a good book indeed. It catches the reader and has the Asimov's fluent and linear text. In fact, too linear. That is the problem. Isaac Asimov, in the foreword, tells us that the temporal paradoxes cause such vertiginous speculations, that the easiest solution would be to suppose that time travel would be impossible. But that he would face them and write a story that would be the ultimate example of the gender. Then he invents the 'Eternity' and the ' Eternals'. What is the Eternity? It is a mysterious dimension created by a Temporal Field of high energy that is provided by the future Nova Sun, billions of years in future. It is formed by Sections that extend for all the eternity and there live the Eternals, humans recruited to be Modifiers of Time. In the Eternity they are immune to time and have unrestricted access to every century. And the Good Doctor is not shy in showing the reach of the Eternals. The thing goes from our time to the century 150,000! Yes, 15 million years! Asimov later concedes that the humanity won't exist then. It will have evolved to something unknown. The plot is very imaginative and the role of the Eternals is opposed to the one of the Time Patrols of Silverberg and Anderson. Their work is continually to alter the continuum, changing History. Computers calculate the Minimum Necessary Changes (MNC) to obtain the Maximum Desired Results (MDR). And the Eternals are never affected, because they are in the Eternity. Interesting, isn't it? But, in my opinion, unplausible. Asimov actually eluded from the problem, because, although he defines it as immune to time, time passes in the Eternity. The events happen, people know people, things are planned and done, events cause other events. There are past, present and future. Asimov creates Eternals 'watching' each Section of the Eternity, i.e., centuries of the normal time. But that is, as I see, absurd. To accompany a time is to live the time. Let's say that an Eternal had, for instance, the mission of watching the century 1000. After 100 years it would accomplish his task. Would he return 100 years in the past and watch everything again? Would he find him working in the first mission? What means 'to watch each century', if all are part of a continuum? Is not everything 'happening' at the same time? Asimov created a solution that I consider inconsistent. When the plot refers to the Reality (the normal time) and to the events 'inside' the Eternity, things are more coherent and involving, but without exploring much the paradoxes. There is an interesting loop when apparently the invention of the Temporal Field depended on help of the Eternity, that, for its turn, only became possible after the invention of the Temporal Field. There was an Eternal that was sent by accident to the distant past and had to leave a message to be read in the future (as in one of the films of the trilogy Back to the Future). But the point is: Why not to solve the problem returning to the past and avoiding the accident? Because, without explanations, the Eternals cannot travel in time in the Eternity. But they can travel from Eternity to Reality and back to Eternity any time. How can you accompany the temporal continuum if you are stuck to an unalterable time line in Eternity? How to reconcile that with the time travels in Reality in parallel to the Eternity? The conclusion of the book - that, obviously, leads to the End of Eternity - is very interesting, and we find out the causes and consequences of all those modifications of History.


The Good Doctor was, to the best of my knowledge, the only author to conceive that singular concept of Eternity in time travel stories. Asimov also introduced in the End of Eternity an inedited component of probability in the History Alteration Paradox. In the Asimovian 'rules of the game', an alteration of the past might not be reflected immediately in the present if could happen a subsequent probable correction. If things were still in the present as they were before the alteration, there would be a significant probability that came to happen a new restoring alteration, that would already be part of the continuum, and due to this fact the reality had not still changed. Only when the probability fell below a - to use an Asimov's expression - 'crucial value', the alteration would be instantly 'propagated' along the whole continuum. But this was not guaranteed. Something that you did could avoid that probable reversion of the change. And that could happen due to a simple irreversible decision of to do or not to do something. That gave to the End of Eternity a new type of suspense in time travel. In the introduction of the book, Asimov also raised a point that usually passes unperceived by readers and writers of time travel: The space travel is implicit in time travel. If not, how would you always appear on the surface of Earth? If we travel one day in the future maintaining our position in space, the Earth will already be far in its orbit around the Sun. Will we materialize in the interplanetary vacuum? And any mechanism of 'fixation' of the temporal trip in the surface of our planet would implicate in an instantaneous trip in space to cover the distance between the Earth of departure and the Earth of arrival. As the Earth is on average about 150 million kilometers from the Sun, if you left in Summer and arrived in Winter (opposed points of the orbit), it would take a bit more than 16 minutes to cross the distance of the terrestrial orbital diameter at the speed of light (actually more than that, because the own Sun also has a movement in relation to the galactic center, and it drags with him the planets - not taking into account a possible deviation of the traveler's path to avoid passing inside the Sun). But perhaps, for you, the trip seemed instantaneous, due to the relativistic dilation of time that would happen in the itinerary; and your time machine could discount the time consumed in the trip, automatically adjusting the selected arrival time. And we cannot eliminate the hypothesis that time travel implicates, as secondary effect, in a space travel at superluminal speed (after all, in relativistic terms, time and space form an only continuum). It would remain the subject of the energy involved, but we can only speculate if the energy necessary to travel at a velocity close to the light speed for 16 minutes, or even above this value, is larger than the energy needed to transport someone, say, a thousand years in the past.

The stories of time travel commented in this article are just a small sample of a vast sub-gender that composes the universe of science fiction since the end of nineteenth century, with the pioneer book The Time Machine, by H. G. Wells. With all their disconcerting paradoxes, those stories continue being my favorite in SF. I like to think that perhaps time travel is physically possible in macroscopic level, as apparently it is in subatomic scale, and that one day the science and the human technology can make a true Time Machine. Meanwhile, we rely on our imagination to travel to the past and to the future. But didn't all the great accomplishments of Humanity begin as dreams?

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