domingo, 27 de abril de 2008

Legião: conto da Intempol, por Anderson Santos

O primeiro conto que recebi para o Projeto Intempol era uma singela história de amor passada na Alemanha em 1935, escrita por um paulistano cujo nome, por uma coincidência incrível, era o mesmo de um dos personagens do conto Eu Matei Paolo Rossi. A história, chamada Anjo, era singela, mas ainda não o que eu esperava para um conto da série.

Anos mais tarde, Anderson Santos reapareceu com novos textos, com uma linguagem que tinha tudo a ver com o clima que eu queria. Uma dessas histórias, curta, grossa e divertida, é a que vocês podem ler agora. Bem-vindos, à Legião. Aqueles que vão morrer os saúdam.


***

Aquele filho da puta do agente Belchior. Isto é culpa dele. Aquele filho da puta.

“Venha para a Legião Estrangeira do novo milênio”, dizia a propaganda.
“Conheça o mundo e, ainda por cima, seja pago por isso”, seduzia o slogan.
“Seja um verdadeiro homem e encante as mulheres”, diziam os recrutadores - As mulheres mais exóticas, mais belas, mais safadas. Todas aos seus pés.
Seja um agente da Intempol.

Obviamente, não chamavam de Intempol nos folders. Apenas os que passaram no treinamento básico e foram recrutados receberam esta informação. Uma enganação desde o começo. E eu agora fodido, metido neste buraco quente.
Oh, sim. Eu sei que a opção foi minha. Eu fui voluntário.

Eles dizem que você não pode comprar 'spirit-of-corps'. Ou você tem, ou nao tem. Só que meu 'semper-fi' está indo para cucuia agora. Como vou me virar no meio do deserto, a 50 graus, sem sombra, água ou equipamentos ?

Com treinamento, diria o porra do Belchior.
Treinamento. O agente Belchior foi meu instrutor na academia. Treinamos para várias coisas. Beber água de plantas na selva. Comer calangos na caatinga. Escorpiões no deserto. Atirar com AK-47 e AR-15. Se necessário, fazer um AR-15 de um pedaco de bambu, um pouco de suor num pano, lascas da pele do calcanhar, pedacos de unha ralada e pedras. Se tiver o tutano de um osso, melhor ainda.

Eu gostei mesmo foi de treinar com espadas romanas e floretes espanhóis. Armas civilizadas. Para matar, você tem de olhar nos olhos do seu oponente e antecipar seu próximo movimento. E quando você acerta, o sangue escorre pelas suas mãos. O banho da vitoria.

O desgraçado do Belchior adorava quando os recrutas ganhavam. Ele via o sorriso assassino nas nossas faces, a adrenalina da competição nas veias. E como nós odiávamos quando perdíamos, com as cicatrizes para lembrar dos erros. No início não pensava que era sério - lutas de treinamento até a morte. Só depois fui entender que os nossos oponentes já estava mortos, de LTAs que tinham sido ou iriam ser apagadas.

Mas eles não sabiam. E como não sabiam que estavam mortos, um morto não está morto enquanto pode segurar uma espada. Meu primeiro “overkill” foi difícil, eu não queria fazer, até que ele deu de presente a minha cicatriz do braco direito. Eu já havia passado pelos primeiros estágios de luta corpo-a-corpo, e sabia o aconteceria se não reagisse. Não se deve ignorar um centuriao romano.

Não seguro o sorriso quando lembro do momento: uma finta para a esquerda, uma ginga com a cintura e meto o pé na cara do safado. ele desequilibra, não espera (e nem conhece) o movimento de capoeira. Fica perdido por apenas um segundo, mas não preciso mais que isso. A lâmina corre precisa entre as costelas e atravessa o coração. Os olhos espelham o terror de quem fora retirado de seu tempo natal, mantido prisioneiro em local estranho e morto de forma absurda. Não o culpo. Eu mesmo, agora, talvez mostre os mesmos sinais em meus olhos. Este deserto não da tregua, é implacavel, e ira me matar.

Continuar andando é minha unica opção. Se tivesse um canudo, poderia fazer um buraco, me enterrar e esperar a noite. Respiraria pelo canudo. Simples. Treinamento é para isso. Soluções simples para problemas extremos. Mas não tenho um canudo. Não tenho nem roupas, apenas farrapos. Ao invés de um sapato, sandálias.

Não tenho uma caixa registradora que me leve para férias em Maui. Penso no Belchior, aquele verme. Não vou dar o prazer da minha morte para ele. Se eu morrer agora, fatalmente a Intempol irá achar meu corpo. É uma questão de tempo, e tempo é o que eles mais têm sobrando. E o Belchior é calhorda o bastante apenas para voltar no tempo e me atormentar dizendo como fui estúpido em morrer de forma banal.

Já vi ele fazendo isso. Uma versão futura dele apareceu no campus apenas para humilhar um recruta. Descreveu com todas as letras e minúcias a forma como aquele pobre coitado iria acabar. E na frente de todos, para ouvirmos.
Um recruta metido a intelectual falou que não precisávamos temer, era apenas para ficarmos mais atentos, que já tinha visto milhares de filmes com instrutores durões, mas que tinham coração mole. Eu não vi o instrutor ter coração mole quando enfiou uma baioneta no meio do pescoco do otário. E uma vez morto, ele ficou morto.

Morrer, então, não é uma opção. Na verdade é uma opção, mas pelo menos não é minha opção.

Areia. Dunas. Mais areia. Mais dunas. Porra de calor.

Minhas pernas ficaram três dunas para trás. Meu bom humor, a cinco dunas. Meu cu, bem, este eu tenho certeza que está aqui, pois está tão cheio de areia, que cada passo sangra a bunda. E como arde.

Missão idiota. Bom, agora parece idiota. Voltar no tempo, impedir que um traficante de relíquias roubasse um manto de um judeu que fez parte da famosa caminhada de Moisés. Quarenta anos começando no nada e chegando a lugar algum. E o manto nem pertencia a ninguém importante, era apenas para provar via testes de DNA que o comprador realmente descendia dos judeus originais, não era um judeu “convertido”.

Além de falhar de maneira horrorosa, acabei perdido no meio do deserto. Não sei como Moisés durou os tais quarenta anos aqui. Neste ritmo, não sobrevivo mais nem quarenta minutos.

Tempestade de areia. Lindo. Isso mesmo, Deus, vingue-se da Intempol na figura deste agente incauto.

Fodeu. A Areia entra pela boca, pelos ouvidos, olhos e tudo quanto é buraco.

Cansei. Deito no chão e que se dane. Belchior, você venceu.

– Eu sei - ouço no meio do vendaval. Abro o olho e vejo a figura vestida de negro.

Um cara de armadura negra no meio do deserto? Parece as mentiras do agente Herbert, aquele doido. Ainda lembro quando ele contou que foi parar numa LT onde tudo, o mundo todo, era areia. Onde já se viu? O improvável sujeito de preto me agarra e joga por sobre o ombro, carregando como se fosse eu fosse um saco de batatas.

– Não, você não é um saco de batatas - responde a figura à pergunta não formulada - Mas terá muitos destes sacos para descascar quando voltar a instrução.

Uma risada irônica se faz ouvir acima da tempestade.

– Não...! - é meu último som, em meio ao nada produzido pela caixa registradora iniciando o teleporte.

sábado, 26 de abril de 2008

A decupagem gráfica do movimento: entrevista com Ennio Torresan

Um dos talentos brasileiros atuando no mercado internacional de animação, Ennio Torresan, natural de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e formado pela Escola de Belas Artes, UFRJ, tem em seu currículo desenhos animados produzidos para todos os grandes estúdios dos EUA e da Europa.
Em entrevista exclusiva, ele fala de suas participações em Madagascar, Bee Movie e Bob Esponja, e joga luzes em projetos futuros, como Madagascar 2 e uma futura exposição na América.

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OCTAVIO ARAGÃO – O caminho de um ilustrador profissional é árduo e exige muita dedicação, isso todos nós sabemos, mas o seu caso é especial. De Petrópolis para a Europa, quais foram os pontos altos da carreira de Ennio Torresan, ilustrador, animador e designer?

ENNIO TORRESAN – Uma vez num onibus 222 Bananal, que eu pegava da rodoviária do Rio para o Fundão/Belas Artes-UFRJ em minhas descidas e subidas diárias Rio-Petrópolis, vi-me no meio de uma discussão entre estudantes de belas artes.

Alguns deles diziam que apenas se consegue subir na carreira através de apadrinhamentos e eu insistia que talento e dedicação eram as únicas armas necessárias. Nunca me esquecerei daquele momento no ônibus lotado, onde o colega ria de minha ingenuidade e eu prometia a ele que isso não ficaria assim. Hoje, analizando o caminho, vejo que uma coisa leva à outra, porém o ponto de partida é você. A qualidade de seus aliados é diretamente proporcional às suas qualidades como pessoa e como profissional, e é mesmo incrível ver seus limites se expandindo e coisas estranhíssimas acontecendo como BOB ESPONJA, EL MACHO, MADAGASCAR...

Mas aqui vão os pontos altos de minha carreira:
Meu primeiro quadrinho publicado; Jornal Quadra da Praia, em 1985.
Minha primeira capa da revista MAD, em 1987.
Pintura de backgrounds-cenários do FIEVEL, em Londres, a partir de 1990.
Produção e direção seguido de premiação internacional do projeto pessoal EL MACHO, 93.
Estreia como diretor em Hollywood, do CSPICY CITY,pela HBO, em 96.
Direção de storyboards e roteiro do BOB ESPONJA, em 98.
Premiação de um Emmy pela direção do TEACHER’S PET, da Disney, em 2003.
Storyboard de MADAGASCAR, pela DreamWorks, em 2005.


OA – O início com animação foi no curso ministrado pelo César Coelho, um dos idealizadores do festival Anima Mundi. Você ainda pretende trabalhar no Brasil, ou esta terra é um cenário por demais nebuloso para que você vislumbre alguma possibilidade? É sempre bom lembrar que a nossa publicidade paga muito bem e é acessível à animação...

ET – Pois não foi? Em 86, na Casa de Cultura Laura Alvin, foi um dos cursos mais legais que jamais havia feito. Ele ampliou completamente minha forma de ver as coisas. Já trazia comigo um pouco de ilustrador e quadrinista. Quando misturei isso à animação, em um ano virou EL MACHO. Não foi facil produzir e dirigir o EL MACHO. Não tinha quase grana, mas sim o apoio de muitos profissionais talentosos. Adoraria voltar ao Rio e montar um estúdio de animação. Adoraria ser responsável por formar e influenciar profissionais da mesma forma que fui influenciado. Dar oportunidades, criar mercado, fazer ponte internacional, ajudar a inventar um estilo. Ajudar o Brasil a entrar neste mercado de longas e seriados. Fiquei impressionado com a qualidade do trabalho dos animadores brasileiros atuais que tive a oportunidade de apreciar quando fui convidado a fazer parte do juri do “Dia International da Animação”.

OA – Qual o seu trânsito com os roteiristas dos desenhos? É uma relação parecida com aquela que existe entre os desenhistas e escritores de HQs ou é mais independente? Você já deu palpite no roteiro de algum desenho animado?

ET – Los Angeles é o unico lugar do planeta onde a profissão de animador para os grandes estúdios vem com sindicato, plano de saúde e contrato assinado, onde agentes e advogados das duas partes discutem o seu salário pelos próximos, as vezes, ate' cinco anos. Daí, a relação entre os diversos departamentos duma produção, seja ela para TV ou cinema, que tende a separar as pessoas.

Em televisão, o roteiro já vem todo feito e o tempo até a finalização para exibição é curtíssimo. Em longas, muda-se absolutamente tudo inumeras vezes, até o filme ser lancado. BOB ESPONJA foi um caso à parte. Nós mesmos escrevíamos tudo no storyboard. Tínhamos uma semana para fazê-lo, e mais uma outra para mudancas e ajustes. Era uma loucura dar sentido àquilo tudo e com sucesso. Este foi um desenho exaustivo. Ao fim de seis meses estávamos todos mortos. Steve Hillenburg (o criador) teve um colapso de nervos e ausentou-se por um mês. No entanto, o resultado foi fenomenal. Muita energia e criatividade. Era uma competição tremenda entre os artistas do seriado para ver quem fazia o outro rir mais.

TEACHER’S PET, um desenho que dirigi pela Disney posteriormente, era lindo mas extremamente entediante. Os roteiristas eram os criadores. Nunca os víamos. Uma pena. O projeto acabou sendo cancelado em um ano. Acabei ganhando um Emmy pela direcao dele e não pelo BOB ESPONJA, que era muito melhor. Vai entender.

Hoje MADAGASCAR me lembra muito a epoca do BOB ESPONJA, com um pouco mais de tempo para respirar. Trabalho atualmente no MADAGASCAR 2. Acredito que ficará bem divertido.

OA – O que você prefere fazer: os conceptboards (desenhos inspiracionais), os storyboards (decupagem gráfica do movimento da animação) ou a animação em si, ficar desenhando quadro a quadro junto com uma equipe (confesso que eu ficaria com primeira opcão. Ainda tenho pesadelos com as aulas de desenho animado da universidade, onde desenhávamos pilhas e pilhas de folhas de acetato sobrepostas numa truca)?

ET – Ha, ha... essa é ótima, Octavio. Bem, já fiz de tanto em animação. Passando por quase todos os departamentos. Já trabalhei em longa e TV, de infantil a adulto, de lápis e papel a photoshop. A coisa que mais me fascinou nisso tudo e ainda hoje nos desafia diariamente é a estória. Todo o resto vem em função dela. Um filme pobre em todos os aspectos ainda consegue se sustentar com uma estória envolvente. Me interesso muito pela atuação dos personagens também. Fundamental para que a estória se torne real. É isso que me interessa nos filmes acima de tudo. Não tenho medo de desenhar. Que sejam 500 por semana, não importa. O que importa é o efeito final.

OA – Você tem algum sub-gênero narrativo preferencial? Ou seja, prefere contar histórias de fantasia, humor, surrealismo, naturalismo...?

ET – Isso tem dois aspectos. Quando produzo para mim mesmo, prefiro o absurdo, o surreal, o inusitado, estórias adultas e irônicas. Mas quando produzo para o mercado, visto o chapéu da obra, e crio ou materializo aquilo que seu público gostaria de estar assistindo.

OA – Uma pergunta aparentemente nada a ver, mas que faz sentido desntro deste site: o que você gosta de ler? E o que você importa de suas leituras para seu trabalho?

ET – Leio muito história geral e livros técnicos. De ficção, acabei de ler a trilogia de Manfredi sobre Alexandre. Adoro uma história em quadrinhos bem escrita. Mas quando não tenho tempo de comprar nada novo, acabo relendo os mesmos livros. Os técnicos são muito importantes. Todos os anos releio um dos vários livros de Syd Field sobre roteiros, só para exercitar e acender aquele lado do cérebro de uma forma nova. Acabei de ler pela segunda vez TRUE AND FALSE, de David Mamet, que escreve um exercício sobre o ator e sua versão em criar seu personagem. Geralmente leio cinco livros ao mesmo tempo. ESPINOZA SEM SAÍDA, de Garcia-Roza (presente de minha cunhadinha), NICHOLAS AGAIN, de Goscinny e Sempé, muito bem-humorado e super simples. O quadrinista Charles Burns é um dos meus favoritos. Lorenzo Mattotti sempre produz livros fenomenais conjuntamente com escritores ou não. Uma época havia me viciado em LONE WOLGF AND CUB, tive de comprar a coleção completa. Al Capp é um clássico. Faço assinatura de duas revistas de fofocas; Rolling Stone e Interview que só tenho pacência para ler cinco minutos a cada vez que me sento ao vaso.

Importo isso tudo para o meu trabalho.


OA – E o que você gosta de ver? Sim, porque às vezes a gente gosta de fazer um determinado tipo de material, mas detesta consumir essa mesma coisa.

ET - Clássicos do cinema: Luis Bunuel, Kubrik, Tati, Fellini, Antonioni, Hitchcock, Kurosawa, Miyazaki, Peter Sellers, entre muitíssimos outros. Também o cinema independente mundial. Curtas de animação desconhecidos. Algumas novelas brasileiras, alguns seriados de TV; Lost, Os Normais, A Grande Família, Battlestar Gallactica. Gosto muito de ópera. Adoro assistir a atores ruins, eles são muito divertidos. Raramente assisto aos filmes que faço. Assisto desenhos animados para TV ou cinema apenas com função educativa, para saber o que os outros estão fazendo. Critico cada fotograma sem perdoar. É muito dificil relaxar e curtir um desenho desses. Vejo a ciência por trás da obra. Me contorço todo na cadeira quando penso numa solução melhor do que a que está sendo apresentada.

OA – Todas as coisas que vi você fazendo foram excepcionais, mesmo aquelas com as quais você não tinha a menor intimidade, como modelagem em argila. Como você lida com o o trabalho? Está sempre insatisfeito ou resolve relativamente rápido, partindo para outro desafio em seguida?

ET – Raramente fico insatisfeito hoje em dia. Acho que meu trabalho chegou num nivel de qualidade que sempre sonhei alcancar. E por isso, resolvo cenas rapidamente e sou confiante no que apresento. Porém, tento sempre me aprimorar. Este mercado tem gente muito boa e é muito competitivo. Não posso deixar de me atualizar.

OA – Já sentiu inveja de alguém? Já houve situações complicadas em sua vida profissional, do tipo concorrência desleal ou puxadas de tapete inesperadas?

ET – Claro. Qual é a profissão onde isso não existe? Inveja é uma coisa natural, tudo mundo sente. A forma como a pessoa lida com isso é que vai direcionar o crescimento dela ou não. Já me passaram a perna e já estive em situações onde tive de despedir um colega, apesar de ser muito amigo dele. Para sobreviver nos grandes estúdios de animação americanos (isso também vale para os pequenos) é necessário inteligência emocional e não apenas talento e dedicação. Quanto mais alto o cargo, mais delicada é a relação que você tem com todos a sua volta.

OA – E o amanhã, o que será? Com o quê Torresan vai nos presentar no futuro?

ET – Agradeco muito pelas palavras. Quanto ao meu trabalho na DreamWorks, este certamente estará sempre chegando ao público brasileiro. ABELHAS, de Jerry Seinfeld, e MADAGASCAR 2 serão os próximos filmes em que trabalhei e serão lancados em 2007 e 2008, respectivamente.

Quanto ao meu trabalho pessoal, tem sempre muita coisa acontecendo. Pintura, publicação do quadrinho THE GUY FROM IPANEMA, exposicao em abril, em Los Angeles, de meu último trabalho de desenhos gestual/figurativo, e a criação de longas que venho escrevendo e que um dia, com um pouco de sorte e muito trabalho pesado, espero transformar em realidade.

OA – Ennio, esta foi uma das entrevistas mais divertidas e enriquecedoras que já tive o prazer de conduzir para este site/blog. Você é a prova viva que, com talento e dedicação, tudo é possível. Boa sorte e muito obrigado!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Novas páginas esboçadas para Quarta-Feira





Manoel Ricardo apresenta novas cenas do álbum Para Tudo se Acabar na Quarta-Feira.
Atenção para a presença de Thomas Payne, personagem criado originalmente por Osmaco Valladão e que já apareceu no conto Um Museu de Velhas Novidades, na segunda página.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Kubanakan é SCI-FI: Entrevista com Carlos Lombardi


Carlos Lombardi estreou na TV aos 19 anos, escrevendo para "Telecurso Segundo Grau", na TV Cultura de São Paulo. Seu primeiro trabalho na Rede Globo de Televisão foi como colaborador de Sílvio de Abreu, na telenovela JOGO DA VIDA, mas a grande oportunidade surgiu em 1985, com VEREDA TROPICAL. Desde então, vem construindo um curículo invejável, sendo um dos poucos autores de telenovelas no Brasil a transitar sem medo por gêneros considerados 'difíceis', como a ficção científica e a aventura.

A novela UGA UGA e a minissérie O QUINTO DOS INFERNOS tiveram como característica marcante as tramas recheadas com referências à cultura pop, tais como os quadrinhos e o cinema hollywoodiano.

Seu último sucesso, KUBANACAN, já pode ser considerada um marco na televisão brasileira por utilizar a temática da viagem no tempo - com todos os paradoxos tradicionais aos quais tinha direito - como recurso dramático.

Nesta entrevista, Carlos Lombardi fala sobre preferências literárias e televisivas, processos criativos e até como lida com a Rede Globo ao propor idéias.


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LÚCIO MANFREDI & OCTAVIO ARAGÃO - Suas novelas primam pela grande quantidade de referências a outras mídias, mais especificamente quadrinhos, cinema e literatura. Em O QUINTO DOS INFERNOS, há a recriação frame-by-frame de uma cena de X-MEN 1 e UGA UGA era quase um remake brasileiro de Tarzan. Agora, em KUBANACAN, tivemos referências a romances e filmes como A IDENTIDADE BOURNE e OS 12 MACACOS, sem falar em citações explícitas a grandes artistas dos quadrinhos, como Esteban Maroto e Jack Kirby. Qual sua intenção ao utilizar tantas referências e citações?

CARLOS LOMBARDI - Minha intenção é sobreviver. Quarenta laudas por dia é uma estiva e tanto.

Na verdade, só faço citações de plot (de trama) de histórias que não sejam originais, ou seja, que apenas são mais uma das várias encarnações de um mito. Tarzan é a concretização em literatura de todas as histórias (muitas contadas de boca a boca) sobre crianças criadas na selva (uma delas é o Kaspar Hauser) que formaram um dos mitos mais comuns do século XIX. O amnésico de A IDENTIDADE BOURNE é mais um de uma longa lista de amnésicos (é só ver o John Doe, etc). Ou seja, retrabalho clichês.

A do viajante do futuro também é comum, um dos temas mais recorrentes na ficção científica - mais do que OS 12 MACACOS, lembrei de Robert Silverberg, um autor que atualmente tem pouquíssima coisa traduzida por aqui e que eu adoro.

Já as citações explícitas (Esteban Maroto, Jack Kirby) são um afago ao povo que, como eu, é fã de quadrinhos. Ou a apresentação a la Wolverine de D. Pedro no QUINTO DOS INFERNOS - uma maneira de mostrar que ninguém vai ver aqui o D. Pedro dos livrinhos de história ou do Tarcísio, jogando nele já um signo atual. A idéia veio da maneira mais banal: quando vi o Pasquim com o cabelo de D. Pedro, comentei que tava mais pra Wolverine que pra Tarcísio - aí pensei, 'é isso mesmo!'.


LÚCIO MANFREDI & LUIZ FELIPE VASQUES - Em QUATRO POR QUATRO, a filha do personagem de Humberto Martins citava NEUROMANCER, - romance de William Gibson, responsável pelo surgimento e batismo do 'movimento Cyberpunk' -, como uma de suas leituras, e agora KUBANACAN fecha com um tom de ficção científica, envolvendo viagens no tempo. Qual o seu grau de interesse pela ficção científica e, dentro desse gênero, quais são os autores e obras que você mais admira em qualquer mídia?

CL - Adoro ficção científica. Estou atrasado - na verdade, tenho lá meus autores favoritos (os óbvios Asimov, Silverberg, etc), mas sinto falta de mais traduções no Brasil. Leio em inglês, mas ficção científica é justamente um dos gêneros mais difíceis (pra mim) de ler no original. A quantidade de informações é muito grande, qualquer pequeno engano desanda tudo. Adoro DUNA e seus filhotes - e, conseqüentemente, detesto o filme, porque não foi fiel ao espírito do livro. A mini-série, mesmo sendo trash, de segunda em termos de produção e direção, pelo menos respeitou o universo original. KUBANACAN nao deixa de ser totalmente sci-fi: é um país inteirinho meu, assim como os autores de sci-fi têm planetas e às vezes universos inteirinhos criados por eles.


OCTAVIO ARAGÃO & LUIZ FELIPE VASQUES - A tradição de ficção científica na teledramaturgia brasileira, ao contrário do que a maioria pensa, é muito antiga, com exemplares como O HOMEM QUE DEVE MORRER (1971), de Janete Clair, onde um mestiço de alienígena e humana interferia na vida de uma cidade do interior, e chegando a O CLONE (2002), de Glória Perez. Você gostaria de desenvolver algum roteiro de FC que não tivesse compromissos com o humor, paródia ou sátira?

CL - Com certeza. É verdade que não acho que humor e sátira sejam inimigos da seriedade. Quem acha que só melodramas são coisas sérias é porque nao tem senso de humor ou nunca leu Shakespeare. A ironia é uma arma do realismo, não da farsa. E o MOCHILEIRO DAS GALÁXIAS é genial. Mas entendo que há uma tradição "sisuda" na sci-fi (como num dos meus favoritos, DUNA, que tem o senso de humor de uma geladeira) e sim, gostaria de me aventurar pelo ramo. Tenho, até, uma sinopse (engavetada) chamada JOÃO AO CUBO, que é exatamente uma minisérie que trata de viagens no tempo como um negócio (uma agência de turismo do tempo). Sei que nao é original, vários romances já tocaram nesse tema pelo menos de raspão. Mas gostaria de faze-lo na televisão.


LÚCIO MANFREDI, HECTOR LIMA & OCTAVIO ARAGÃO - Qual foi a receptividade da emissora à idéia de fazer uma novela que, no final, se revelava abertamente como uma história de ficção científica? Sem falar na polêmica de mostrar o protagonista como amante da própria mãe (e da tia) e ainda aquele que considero, talvez, o fechamento mais canalha das telenovelas de todos os tempos, com um tabefe cruel na cara de uma das personagens mais carismáticas da trama...

CL - É o seguinte: só saiu porque ninguém sabia. Nunca contei à direção da casa que ia terminar a novela assim - até porque tinha três opções de final, sendo uma delas uma versão espírita, a lá SEXTO SENTIDO, ou seja, Esteban estava é morto e não sabia. Nunca negociei diretamente isso com a empresa, senão tenho praticamente certeza que ouviria um NÃO. Pra muita gente, ficção científica ainda rima com camisa de força e gente babando.


OCTAVIO ARAGÃO & HECTOR LIMA - Você citou em outras entrevistas que o enredo original era muito mais simples e que o final envolvendo timetravel não era o planejado no início. Quais foram os motivos para essas mudanças e, agora que a novela acabou, o que você teria feito diferente?

CL - Mudei porque novela é assim mesmo. Você não inventa só uma história. Você inventa uma história, vai contando e você dialoga com o público e com o elenco. Esteban foi um estouro, sua história cresceu e virou a central. Portanto, gastei o que tinha previsto antes da hora. Senti que o público merecia uma explicação muito mais complicada, que realmente tentasse captar todos os afluentes que fui largando pelo caminho. Por isso mudou, porque a história cresceu, porque o público gostou e porque o Pasquim fez muito bem.


LÚCIO MANFREDI - Na sua opinião, qual ou quais as melhores formas de conciliar as estruturas tradicionais do melodrama com elementos de gêneros como ficção científica e aventura?

CL - Não sei. Não tenho receita. Sou péssimo nisso. Só sei ir experimentando e fazendo. Acredito, porém, que o segredo de um trabalho em TV é a empatia entre público - personagens - atores. Quando esse triângulo fica feliz, você só precisa ser claro ao contar a história.

Vocês não perguntaram, mas vai lá. Sempre dou uma conferida em tudo de sci-fi que aparece na tv. Detesto os filhotes de JORNADA NAS ESTRELAS, o único que acho engolível (mas nao imperdível) é ENTERPRISE, até porque o Scott Bakula tem saldo em sci-fi depois de Quantum Leap, uma delícia de seriado. Fui conferir FIREFLY e achei uma coisa pela metade, cheio de boas intenções mas nao gostei de tudo - apesar de Jane, o mercenário, ser um grande personagem, feito por um cara underated como o Adam Baldwin. Sou fã de carteirinha do finado FARSCAPE, sem dúvida o seriado de sci-fi (a meu ver) mais inteligente e bem estruturado dos últimos anos.

Obrigado pela chance de falar tanto.

sábado, 5 de abril de 2008

Saída de Emergência: conto da Intempol por Hidemberg Frota

Um dos primeiros autores revelados pela Intempol, Hidemberg Frota é um advogado manauara que acompanha o projeto desde seu início, em 1998, quando tinha por volta de 17 anos. De lá para cá, contribuiu com diversos contos e conceitos para a geléia geral que é a Intempol. Esta é uma de suas contribuições, datada de 2005.

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O elevador chegou ao destino a um palmo abaixo do piso. Enquanto erguia a perna para subir o degrau deixado pela displicência mecânica, ouviu a voz fina mas estridente chamando-o por professor. Professor, professor, professor, a insistência lhe soava familiar, acompanhada do sotaque catarinense, reverberando o contínuo assombramento da forasteira.
- Bom dia, Léia.
- Professor, preciso falar com o senhor - Léia era a única aluna estagiária na Procuradoria-Geral da República que esquecia de trocar o "professor" pelo "doutor".
-As provas, só na próxima segunda.
- Pois é, eu estive na aula de sábado. Na verdade é assunto particular.
- Ainda não conseguimos pagar o atrasado dos estagiários. Só depois do décimo-terceiro dos servidores.
- Mestre, é assunto particular, mas de interesse alheio.
- Cliente do Escritório Jurídico da Faculdade?
- Meu vizinho. Ele foi preso.
- Bebeu?
- Está sendo investigado por terrorismo.
- No mínimo, trinta anos.
- A sentença não foi prolatada. É prisão administrativa.
- Dois meses na certa.
- Eu estou ajudando a escrever o habeas-corpus dele.
- Por quê?
- Fizeram uma busca e apreensão domiciliar na madrugada. Não havia mandado judicial.
- Eu já te disse, Léia, esquece a Constituição do Brasil.
- A prisão não foi arbitrária?
- A prisão foi administrativa. Não precisa de ordem judicial.
- Mesmo à noite?
- Em caso de terrorismo, sim.
- Não há como recorrer?
- Depois de um mês, o preso pode pedir liberdade provisória ao Ministro da Justiça. Não crie expectativa.

***

Suspirou como se expirasse o tédio de perguntas inócuas. Afrouxou o cinto. Afivelava-o como se ainda tivesse pudor em conter a gula. O urubu no outro lado da janela retomava a sessão matutina de contemplação paisagística, rotina diária que recordou Montoro de seu próprio itinerário.
- Zaira, já deixaram a garrafa de café - gritou para o outro lado do gabinete, separado pela porta semi-aberta.
- Já, Dr. Montoro.
- Pega lá pra mim, por favor - pediu, enquanto ligava o navegador da internet.
- Vem cá, a conexão continua daquele jeito? - indagou Montoro, observando a chegada da xícara.
- O técnico disse que é por causa da pirataria.
- Só que eu preciso entregar o parecer sobre aquela questão de quotas para homens em cursos de Direito. Em Portugal o Tribunal Constitucional enfrentou a mesma discussão. Eu preciso fazer o download dos acórdãos.
- Qual o posicionamento deles, doutor?
- De que a quota é constitucional, porque a neurociência já comprovou que as mulheres são mais inteligentes que os homens. Sendo elas a maioria nos cursos de Direito, prevalece a igualdade material: tratar os desiguais na medida da sua desigualdade. Desigualar agora para igualar lá na frente.
O Palácio Cilíndrico balançou no compasso da ventania que afastara o urubu para abrigo mais seguro, fizera o café transbordar para a mesa e silenciar o murmurar do ar-condicionado central.
- Outro terremoto na Venezuela?
- Com esse estrondo, doutor?
- Não foi o transformador que pifou? Ficou sobrecarregado.
- Parece uma explosão - asseriu Zaira, abrindo a porta do corredor, onde esbarrou no militar, que lhe alertou:
- O míssil atingiu o quarto andar. O Tenente Haddad disse pra evacuar.
- Depois desse susto, evacua-se até com hemorróida - completou a secretária, olhando para o chefe.

***

- Vamos por aqui, Dr. Montoro. As escadas estão entupidas de gente - sublinhou o militar, apontando para a Sala de Audiências, que se viu iluminada por três ofegantes lanternas.
- Sargento, vamos abrir essa portona aí. Ela é pesada. A porta do corredor vai ficar aberta e esta também. Assim, quem se lembrar da saída de emergência, não se atrapalha.
- E agora? - perguntou Zaira, fitando o vazio sombrio recém-desvelado.
- Mergulhemos - empurrou o Sargento Messias e a Dona Zaira, cujo grito de desespero se viu amortecido pelos colchões empoeirados.
- Estamos no subsolo - informou Montoro, contendo-se para não denunciar a agilidade física de sedentário.
- Doutor, como a gente sai daqui?
- Pelo corredor, Zaira - indicou o caminho das luzes rubras.
Caminhavam a passos curtos, sincrônicos e ritmados como se corressem em esteiras, condicionados à batida eletrônica de música de fundo de academia de ginástica.
- Que barulho é esse? - Igarapé? - perguntou o Sargento Messias.
- Não é zoada de água, não - observou Zaira.
- Som de buzina - comentou Montoro.
- A passagem de nível da Djalma Batista - dilucidou Messias.
- Já?
- É a pressa, Zaira - explicou Montoro. - A gente anda como se o Palácio Cilíndrico fosse se arrebentar no chão.
Premidos pelo calor, desaceleraram à medida que se aproximavam dos filetes de luz emoldurando o portão de saída.
- Onde estamos, doutor?
- No porão do Ministério da Educação, Zaira. De costas para o Amazonas Shopping - afirmou Montoro, ao empurrar a barra de ferro, junto com o Sargento Messias.

***

Subiram o lance de escadas e chegaram ao térreo. Estilhaços de vidro ao chão, permeando o corredor a contornar o quadrilátero.
- Abaixa, Sargento! - gritou Montoro, ao ver a mira laser.
Agachados, Zaira, amparando o corpo caído de Messias e fitando a pistola no coldre do militar, perguntou:
- O senhor sabe atirar?
- Só bola de gude.
Zaira tirou do bolso o terço.
- Passa pra mim, que eu vou precisar, Zaira. Volte ao túnel. O corredor esquerdo vai bater na Cidade Nova.
- O senhor é mais novo.
- A senhora tem cinco bocas para amamentar. Eu tenho seguro de vida.

***

Enquanto a saraivada de tiros riscava o ar entorpecido de fumaça, Montoro enroscava sua tosse rouca embaixo da mesa. Percebeu a porta sendo escancarada. Viu as botas se aproximando, enquanto congelava a respiração. Puxou as pernas da sombra, que se estatelaram, levando ao piso frio a cabeça coberta, que se espatifou no vaso de cerâmica.
Correu antes que criasse coragem para olhar a poça de sangue. Correu sem olhar para os lados em vôo kamikaze no silêncio do lobby vazio de vítimas sobreviventes, testemunha esviscerada de uma guerra anunciada. Encontrou o sol do meio-dia e suspirou. A direita desapertava o que sobrara do nó da gravata e a esquerda descansava, suando vermelho.

***

A sóror se mantinha silente. O semblante de quem já viu essa história antes contrastava com a tez de juventude insofismável. A beleza de seu rosto pálido se curvara à sobriedade de seus trajes monásticos, cujo branco-e-azul dizia a Montoro que tudo estava bem, o tiro-ao-alvo em montanha-russa se encerrara. A firmeza de seu olhar transformara a consolação em esclarecimento. Com a cabeça desnuda deve ser mais bonita ainda, pensou Montoro, enquanto ela sorria de leve, espargindo-lhe serenidade. Montoro sentia o corpo dilatado, balão sem pressa para aterrissar, esvaziando os pensamentos em nuvens diáfanas.
Ai!, o braço enfaixado fisgava-lhe de volta à vigília, ao encontro da janela retratando a paisagem alaranjada de final de tarde. Tirou o cobertor do peito.
- Calma, você já vai ter alta - Montoro viu a enfermeira sem saber se era metade índia ou metade oriental.
Sentada na ponta da cama viu a filha ruborizada de lágrimas.
- Helena, o que houve? - procurou seus olhos de quatorze anos atrás de maturidade pós-balzaquiana.
- Pai, dessa vez os ataques da Resistência Baré foram mesclados. Tiroteio, míssil, incêndio, seqüestro. O senhor teve sorte.
- Tanta pirotecnia para reanexar a Amazônia ao Brasil. Deixa estar, diria o José Lins do Rêgo.
- Melhor que ser pombo-correio dos americanos.
- Ninguém forçou o Brasil a trocar a Amazônia pelo perdão da dívida externa.
- O primeiro-ministro declarou feriado por dois dias.
- Pra ver se a poeira senta mais rápido, Helena.
- É o final dos tempos. Catástrofes ambientais, crescimento do crime organizado, banalização do sexo e da violência, esgarçamento do tecido social, desregramento moral.
- Fale como alguém da sua idade. Assim você me faz me sentir o adolescente da família.
- É a chegada do Astro Intruso, pai. Ramatís já dizia isso há meio século. Está lá na psicografia do Hercílio Maes, "Mensagens do Astral".
- Às vezes o espírito de sua mãe incorpora em você.
- Mas a mamãe não era espírita, nem ramatisiana.
- Ela era consciencióloga. Achava que vivemos a era da aceleração histórica, em que um monte de trogloditas psicopatas estariam voltando à carne depois de séculos sem "ressomarem", como ela gostava de dizer.
- É o homo sapiens reurbanisatus, pai.
- Deixa essa tralha misticóide pra lá. Vá namorar, sair com as tuas amigas. Depois é só chapotelada da vida.
- Eu quero acelerar a minha evolução.
- Agora realmente baixou a tua mãe.
- O senhor é adepto do carpe diem.
- Às vezes eu me pergunto se não seria o caso de aproveitar o momento antes que um carro-bomba nos leve pelos ares.
- O importante é cumprir o dharma.
- Você é nova demais para saber qual sua missão de vida.
- Chico Xavier desde jovem exercia seu mediunato.
- Helena, quem acabou de enfrentar a morte fui eu.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

A Novel is a Novel: Interview with Philip José Farmer


One of the finest genre writers of all times, Philip José Farmer is also one of the more versatiles. With themes that run from traditional Science Fiction to pulp oriented homages to authors like Lester Dent, Edgar Rice Burroughs and Jules Verne, he wrote great series such as DAYWORLD, RIVERWORLD and is the creator of the Wold Newton Universe, a project that try to unite several famous characters like Tarzan, Doc Savage, Sherlock Holmes and Fu Manchu as if they were members of the same family and that influenced in a way or another several other authors such as Kim Newman (ANNO DRACULA) and Alan Moore (THE LEAGUE OF EXTRAORDINARY GENTLEMEN).

Today, with 86 years, the great master agreed to honor us here at the Intempol site with this small interview.


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CARLOS ORSI MARTINHO: Much of your sf work, I may mention the World of Tiers and Riverwold series, seem to me to be more "rationalization frames" for wild adventure tales. It seems that you did plan some Tarzan or Doc Savage-esque adventure and then thought, "all right, in wich frame these things coud be plausible?" and then the sf worlds were build. Was the process something like this? In your mind what comes first, the sf frame or the swashbuckling?

PHILIP JOSÉ FARMER: The SF frame, of course.


COM: When I read "A Feast Unknown" I was kicked out of my feet: It's postmodern before post-modernism, tarantinesque before Quentin Tarantino... And quite fine yarn, too. It seems to have come before it's time. Same thing with your team-ups of classic pulp heroes, as Tarzan (or Mowgli) with Sherlock Holmes. All this things you did so many years ago are in vogue now. How do you feel about it? Why there isn't more of your work translated into film and comics?

PJF: A lot of my early ideas were too "early" for TV or movies at that time , and they wanted the traditional SF. I have no idea why it isn't used more now.




CARLOS ORSI MARTINHO E LUIZ FELIPE VASQUES: You have a wide transit in your literary work, going from pulp pastiches to some very sophisticated science fiction, to pulpish science fiction and into the mainstream. Today, some publishing houses are adopting the term 'scientific thriller' to nominate some SF novels, trying to avoid a direct relation with the genre. In a world where the frontiers among genres like SF, Fantasy and Horror are so diffuse, do you still believe in some kind of segmentation?

PJF: I never did believe in separating science fiction from mainstream or fantasy or horror. A novel is a novel.


COM: You have paid homages to such pulp era icons like Tarzan, Doc Savage, the Shadow and even Great Cthulhu, but -- if I'm not mistaken -- not to any of Robert E. Howard's creations. Any reason for that? Do you dislike Howard's work? Or am I mistaken?

PJF: I have nothing against Robert Howard's work. I just never got around to it. An author only has so much time to write, and can't cover everything.


OCTAVIO ARAGÃO: What about sex in SF? You are considered a pioneer in this field, not afraid to insert 'vivid' sex scenes and even sex-driven plots (like in FLESH) in the conservative world of American SF. Why you did it and how was the answer of the public and the critics to this?

PJF: Science Fiction is supposed to include everything in literature, but they left out sex. I thought it was time to include this very important area. A few traditionalists objected, but the authors were happy for the breakthrough.


LUIS FELIPE VASQUES E OCTAVIO ARAGÃO: Do you believe in the future of literary SF, or it is doomed? How do you see the market today for this kind of genre and what are your opinion to improve it, making it a healthful one?

PJF: Yes, I do believe in the future of Science Fiction. I'm not sure what you mean by "literary" SF. I thought any novel was literary.

OCTAVIO ARAGÃO: I was refering to the SF produced in novels and short stories against the movie Sci-Fi. But it is ok! Thank you very much, Mr. Farmer! And also thanks to Mike, webmaster of the excellent site http://www.pjfarmer.com, for helping us to get in contact with one of our favorite writers.

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