quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Guerra dos Imoles, 9ª parte - uma noveleta de Roberval Barcelos

Deuses de terracota

Ferreiro estava com as mãos calejadas de tanto macerar ervas e folhas. Parou por alguns minutos. Olhou ao redor e viu, num canto, as imagens em terracota de Elegüá – Exu – tanto de cabeças enfeitadas por alguns búzios que marcavam os olhos, boca, nariz e orelhas, ou na forma de falos eretos, símbolos da virtude e da virilidade.

Enquanto admirava aqueles ídolos tão antigos quanto a sua própria cultura, ficou imaginando que tipo de mensagem chegaria ao Babalaô.

Como uma resposta divina, um negro, com um gorro metade preto e metade vermelho, vestindo uma tanga que parecia se r um tecido grosseiro tingido de preto e vermelho, mas sem qualquer simetria, apareceu bem na sua frente. Parecia exibir um sorriso irônico.

– “Larôi-yiê”, Exu! – Ferreiro disse em saudação ao sarcástico.

De repente, num instante divino, o deus falou. Era uma mensagem dos outros deuses:

– A guerra é dos homens e dos deuses. Não só dos deuses e não só dos homens.

Ainda recuperando-se da surpresa em ouvir a voz do deus mensageiro, Ferreiro balbuciou: – Mas os
homens têm poucas chances contra os deuses.

– Pouca, mas não nenhuma. Lutem pelo que acreditam e escolherão seu futuro – o deus replicou e
desapareceu. Ferreiro mordeu os lábios e olhou para as imagens em terracota. A escolha já estava feita, mas teriam que lutar para sobreviver.


* * *

Franco foi na direção de Afisi em companhia de Roberto, Giácomo e Tadeu. O africano estranhava a pele branca dos agentes, mas tentava aparentar indiferença.

– Afisi, nós viemos te agradecer pela ajuda.

– Ajudei porque não quero estranhos nos ditando regras. Sejam estranhos amigos ou inimigos.

Franco entendeu o recado. Nem amigos nem inimigos. Seria Afisi o primeiro nacionalista africano?

– Nós só queremos ajudar. – disse Franco – Foram os homens de Akim que instigaram o ataque e
destruíram a outra aldeia. Nós não os trouxemos aqui, apenas viemos no seu encalço para detê-lo antes de causar estragos irreversíveis para vocês.

– Pode trazer de volta as vidas que se foram desde que vocês chegaram?

– Não Afisi – Franco sacudiu a cabeça com pesar.

– Isso não podemos fazer.

– Então os estragos irreversíveis já aconteceram e vocês não conseguiram evitar.

Franco não gostou da objeção. Quando o africano deu-lhe as costas, ele o puxou pelo ombro, virando-o de frente novamente e dizendo com os dentes cerrados:

– Acha que somos os responsáveis? – apontou para uma cabana que virara cinzas – Viemos aqui para evitar que Akim os corrompa e os desvie de seu caminho. Vocês têm um futuro grandioso à sua espera e mui ta coisa dependerá do que for feito aqui.

Afisi franziu o cenho e devolveu:

– Se quer tanto assim nos ajudar, então pare de afrontar os deuses. Eles não querem que exista um “élégun” e você vem nos dizer que enfrentá-los é a escolha certa? Que futuro podem os homens esperar se confrontam seus próprios deuses? Eu já disse: nenhum estranho vai nos dizer o que devemos fazer. Nenhum.

E dessa vez saiu sem ser impedido.

– Que crioulo safado! – Roberto esbravejou, já com a mão na Terminator – Vem aqui, mata uns manés,
tira maior onda de fodão e sai esnobando nossa ajuda!

– Guarde sua arma, Roberto.

– Vai se foder, Franco! Ao que me consta, a Empresa não existe mais e sem ela foi-se a hierarquia.

Num piscar de olhos, a Terminator de Roberto estava na mão de Franco, que devolveu-a com uma
advertência:

– Não tente quebrar a hierarquia, agente Roberto Alves. Isso pode ser muito perigoso.

Com ódio no olhar, Roberto guardou de volta a Terminator e saiu a passos largos, deixando os três para trás. Franco deu de ombros e prometeu a si próprio demitir todos os Psicólogos da Empresa quando retornasse. Em seguida, olhando para Tadeu, lembrou-se que os Psicólogos haviam sido demitidos e substituídos pelos psico-historiadores excedentes.

Franco resolveu voltar para a cabana do Babalaô com Giácomo e Tadeu para preparar o revide a Akim, antes que este se sentisse poderoso o bastante para arriscar um ataque mais direto à aldeia. Deveria planejar com cuidado, pois o futuro voltou a ser território desconhecido e até errar tornou-se possível.

No caminho, ele olhou para o céu azul e para uma árvore que era mais alta do que as demais. Olhou para aquela vastidão azul que parecia maculada somente pelo verde das folhas que se projetavam ao alto, esperando que um pássaro saísse de seus galhos.

Segundos depois, um pássaro saiu em meio a folhagem e alçou vôo até sumir da vista de Franco.

– Esperem! – o deus (ou ex-deus, se prevalecer a visão de Roberto), abriu os braços e parou Giácomo e
Tadeu, que tentavam entender o que se passava desta vez.

Franco sacou sua Terminator, sendo imitado pelos outros dois que, apavorados, olhavam em todas as
direções.

– O que foi, Franco? – Tadeu perguntou, segurando desajeitado a arma.

– “Déjà vu”! – Franco respondeu.

– Viu o quê? – Giácomo indagou. Ninguém mais do que ele detestava meias-respostas.

– Eu disse “déjà vu”. É quando um momento do tempo se repete sem nos darmos conta.

– Então como você sabe? – perguntou Tadeu

– Porque sei – respondeu, cansado de ter de dar satisfações a subordinados – Isso já aconteceu e vem se repetindo.

“Falo do instante em que Roberto se afastou de nós até o pássaro levantar vôo – apontou para a copa da árvore de onde o pássaro voou. – Deve ter acontecido quatro ou cinco vezes, nem eu sei precisar.”

Em seguida uma gargalhada de escárnio. Franco reconheceu o deus mensageiro e indagou aos outros dois:

– Estão vendo? – os outros, ainda segurando suas armas, sacudiram a cabeça e acharam que Franco estava maluco.

Franco não disse mais nada. Era óbvio que eles não viam Exu, o futuro Orixá que, segundo o “Oriki” (verso sagrado): ‘é aquele que acerta o pássaro ontem com a pedra que arremessou hoje’. Isso, para Franco, queria dizer que este deus está diretamente relacionado ao controle do tempo.

Nenhum som. Franco sabia que não estava surdo e sentiu o ar mais pesado, parado, como num dia sem
brisa. Devagar, olhou para trás e viu Giácomo e Tadeu imóveis como estátuas. Descobriu que estava noutra escala do tempo. Detestava isso.

– Pare de rir, Mensageiro dos Deuses, e diga-me o que fazer.

Exu parou de gargalhar, levando o indicador aos lábios.

Desapareceu. Franco nem reparou que estava em tempo normal e que Tadeu e Giácomo bombardeavam lhe com perguntas de todo tipo. Sem prestar atenção, seguiu com passos decididos rumo a cabana do Babalaô.

* * *

– Preciso consultar Ifá – Franco pediu ao Babalaô.

– Se quiser saber mais sobre o futuro, saiba que nada mudou desde a última vez que consultei. O conflito é iminente e o desfecho é incerto.

– Quero saber sobre um homem.

– E por acaso esse homem é você?

Franco engoliu seco e devolveu:

– O homem é Julian Akim, nosso inimigo.

O Babalaô ficou em silêncio, olhando dentro dos olhos de Franco e tentando achar as palavras:

– Sim, nosso inimigo. Vai confronta-lo?

– Melhor do que esperar o próximo ataque.

O Babalaô adentrou na cabana com Franco e apanhou as favas, o pó do Axé, a tábua e iniciou o ritual que antecede a consulta. Saudaram Orunmilá e prepararam-se para as perguntas. – Devemos atacar Akim?

O Babalaô jogou as favas três vezes e mandou Franco abrir a mão esquerda. Lá estava um pedra preta.

– Não. Orunmilá diz que mais importante nesta guerra é o “élégun”. Foi essa a resposta de Orunmilá.

– Isso não é uma resposta clara!

– Então interprete-a e tire suas próprias conclusões! Está claro que esse ataque não importará para o desfecho da guerra.

Franco estava frustrado. Na Empresa, o ataque e suas conseqüências eram bastante conhecidos, mas com o fim do futuro, tudo era incógnita. Na dúvida, decidiu manter o plano original.

– Obrigado, Babalaô. Já sei o que fazer.

Disse e saiu, após saudar Ifá. Enquanto o Babalaô recolhia seus apetrechos, Chico Ferreiro entrou e foi logo indagando:

– Ele ficou frustrado com alguma coisa, não foi?

– Sim. Com sua incapacidade de ver além.

– Isso é muito ruim?

– Não, muito não. Apenas ruim.

* * *


Tadeu e Giácomo conversavam com Roberto quando Franco surgiu afoito e arrogante:

– Preparem-se para atacar!

– Quem? Aldeões ou Akim? – Giácomo indagou.

– Akim – respondeu com firmeza.

– Se ficarmos contando com ajuda do tempo, corremos o risco de perder o futuro de vez.

– E quanto a matar? – a indagação de Roberto Alves tinha endereço certo.

– Quantos puder, Roberto.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Dealing with deadlines: Interview with Ellen Datlow


She is one of the most successful editors of short SF&F stories anthologies, with more than 40 titles born thanks to her talented hands. Now this winner of the Hugo Award for Best Professional Editor in 2002 and 2005 talks to the Intemblog about her working methods, her career and how she actually deal with those famous superstars writers, such as Stephen King and Harlan Ellison. With you, Miss Ellen Datlow.

***

Octavio Aragão: You are one of the most successful editors in the SF&F literary field. How was your debut and why you chose this area?

Ellen Datlow: My first job in the field of sf/f was as associate fiction editor at OMNI Magazine. Before that I deliberately chose to work in mainstream (non-genre) book publishing because although I loved reading fantasy, science fiction, and horror I didn't want to be forced to edit only one type of fiction.


OA: Among the more than 40 anthologies you edited which is your favorite and why? And which one was the more difficult to accomplish?

ED: It's really impossible to choose one favorite anthology. I've enjoyed editing all of them for different reasons.
 
My early ones: Blood is Not Enough and Alien Sex were filled with both reprints and new stories. By using those reprints, I was able to develop the core of the theme I was working with and could use stories that I'd read in the past and loved, and wanted to introduce to new readers. Blood is Not Enough and A Whisper of Blood (also my forthcoming Blood and Other Cravings) allowed me to broaden and even challenge the concept of the vampire with regard to what vampirism can encompass--not just blood sucking,  and proved how versatile the idea and image of the vampire can be despite the usual, dull reworkings of the trope.

Salon Fantastique, The Del Rey Book of Science Fiction and Fantasy, and Inferno – because they were non-theme anthologies, they allowed me (and Terri Windling for Salon Fantastique) the freedom to publish whatever we chose that I felt fit within the sub genres I was working in.

The Year's Bests are always a pain and a joy – a pain because I have so much reading to do for it (I try to read or at least skim every short story in English that I'm aware of) but a joy to showcase the stories I love.

Most recently, I've really enjoyed editing
Supernatural Noir, which combines two of my favorite things: noir and the supernatural.


OA: You work with some the best SF&F authors of England and USA and we know how creative people can be difficult sometimes. Any curious event you could share with us?

ED: While at OMNI, because it was a "slick", that is, mass market magazine with national distribution and relied on advertising, advertisements could be sold up to the last minute that the magazine was going through the production process.  So ads would sometimes be dropped or be added near the end of every monthly production schedule. And those ads had to fit into the magazine somehow.--at the expense of editorial material.

For most of my seventeen years at
OMNI I had to cut and add text from the stories I published, (with the cooperation of the authors). This didn't mean cutting huge swaths of text but it was more like surgical precision – cut a stray word or phrase here, or remove a paragraph break. Add a few more paragraph breaks, etc. Occasionally, I had to work with an author to cut 100 lines (not full lines but still a lot). This happened with Stephen King. I made all the possible cuts and then after two days of going through his agent I was finally on the phone with Mr. King. I was very nervous because if he didn't approve the cuts we'd have to cut the story from the issue. We went over my cuts, line by line and he was charming and cooperative and I was so very relieved. The funny part is that we came to one cut that was a joke made as an aside, in a parenthesis. That was the only thing he requested I put back if there was room (there wasn't) and I told him he could use it in another story – don't know if he did.  So he was the opposite of difficult. He was professional and gracious about the whole thing.

Happily, the last few years at
OMNI this was no longer an issue because we used computers to set the text, making everything more flexible and making it possible to avoid those horrible cuts and adds.



OA: How do you build an anthology? Which are the steps to a well succeeded collection of short stories?


ED: It depends on the type of anthology. For a theme anthology of original stories I always begin with a theme in which I’m interested. Then I contact writers I'd like to include in the anthology (leaving some room for serendipity, i.e. the unexpected submission received through word of mouth) and ask if I can count on them to write a story for me should the anthology sell (there is never a guarantee that the writer will/can actually produce a story or one that I can use). I write up a proposal using the names of the writers who have committed to it, and my agent will try to sell the proposal.

Then I wait for the submissions, encouraging the writers periodically and asking how their stories are coming along. I usually receive most of the stories before my deadline. There's more flexibility in the type of story I'll buy in the beginning of the process. As the anthology begins shaping up I'm much more careful of repetition in point of view and sub-themes.

A couple of months before my deadline I start nagging, and I also may alert the writers who haven't yet submitted their stories that I don't want any more of a particular type of story. And I try to make sure I have enough stories coming in. If not I may contact a few other writers and ask for stories.

A month or so before I hand in the finished manuscript I do the final line edit of each story – although for most of the stories I've already worked with the author on any substantive editing before I've committed to buying the story. But every story gets a final and thorough line edit towards the end of the process.

At this point I write an introduction, often using my proposal and guidelines to the authors as the germ of the intro. I also arrange the stories in an order I think works for the stories’ presentation. The first and last stories are the most important placements.  The first one needs to be inviting to the reader—not too long, not too difficult to get into. The last is often the story that the editor feels is the strongest or one of the strongest in the anthology. Or sometimes I’ll put in a few very strong stories at the end and then finish with a “grace note.” Obviously, one can’t guarantee that readers read the stories in order but I have to make my decisions on placement assuming that they will.


 
OA: Which one of your books was you best seller hit? And how the new e-books market affected your line of work?

ED: Snow White, Blood Red edited by Terri Windling and myself sold 72,000 in mass market copies over the years it was in print. Last year it was reissued by Barnes & Noble in hardcover with a new jacket, and is already going back to press for a second printing. We’ve gotten royalties the longest from that one. But several other of my books (with or without Terri) earned royalties for several years: The Dark, A Wolf at the Door,  Blood is Not Enough, Black Thorn, White Rose, Alien Sex, and a few others.

I’m hoping more readers will be buying anthologies for their nook, kindle, ipad, and other e-readers. So I’m optimistic.


OA: Thank you very much, Miss Datlow!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Atenção, jovem autor: Card & Kastenmindt têm uma proposta para você

Concurso Hydra de Literatura Fantástica Brasileira

O concurso Hydra, uma parceria entre a revista eletrônica norte-americana Orson Scott Card’s Intergalactic Medicine Show e o website brasileiro A Bandeira do Elephante e da Arara, visa expor o melhor da literatura fantástica brasileira para leitores em língua inglesa do mundo inteiro.

Um painel composto por três juízes selecionará três finalistas entre os contos de literatura fantástica publicados no Brasil pela primeira vez nos anos de 2009 e 2010. O conto vencedor será selecionado pelo escritor norte-americano Orson Scott Card, autor dos livros Jogo do Exterminador e Orador dos Mortos e um dos escritores mais premiados de ficção científica no mundo.

Card diz, “Desde a época em que vivi no Brasil no começo dos anos 70, a nação e o povo do Brasil têm sido importantes para mim. É por isso que em Orador dos Mortos, os colonos são brasileiros que falam português! Quando voltei para o Brasil há vinte anos para participar de uma convenção de ficção científica, fiz novas amizades e li o trabalho de alguns autores estimulantes. Continuo seguindo o panorama de ficção científica brasileira, e tenho orgulho que a IGMS facilitará a apresentação de alguns destes escritores aos leitores americanos. Até agora, leitores americanos têm pouca idéia da quantidade de bons trabalhos que estão sendo feitos no nosso gênero no Brasil.”

O conto vencedor receberá tradução para o inglês feita pelo escritor Christopher Kastensmidt, finalista do Prêmio Nebula de 2010, e organizador do Concurso Hydra. O conto vencedor também será publicado na Orson Scott Card’s Intergalactic Medicine Show (IGMS), com pagamento profissional.

Edmund R. Schubert, editor de IGMS diz, “Desde o lançamento online da revista, publicamos histórias do mundo inteiro, mas apenas das partes do mundo onde falam o inglês. Esta oportunidade de buscar literatura brasileira, onde não há apenas um outro jeito de falar mas também de pensar, é emocionante. América do Sul e América Latina são conhecidas de longa data por incorporar realismo mágico em sua ficção, o que é uma novidade perfeita para a IGMS investigar. Estou bastante animado para ver as histórias que chegarão para nós deste concurso.”

O organizador Christopher Kastensmidt diz, “A comunidade brasileira de ficção especulativa produziu centenas de histórias excelentes durante os últimos anos, mas poucos chegaram aos leitores de outros países. Esse concurso é uma chance de mostrar aquele talento para o mundo. Intergalactic Medicine Show reconhece que o mundo da FC se estende muito além dos EUA, e agradeço de coração o apoio deles neste evento. Acho que vai ser um grande momento para nossa comunidade aqui.”

O nome do Concurso Hydra vem da constelação. Sendo um grupo de estrelas com nome de um monstro mítico, a constelação Hydra é símbolo da fantasia e ficção científica produzida pela comunidade de escritores de ficção especulativa. A constelação atravessa a equador celestial, unindo os hemisférios celestiais norte e sul, da mesma maneira que o Concurso Hydra espera juntar os hemisférios norte e sul de ficção especulativa. A constelação Hydra também aparece na bandeira brasileira.

As inscrições serão abertas de 01 de julho até 15 de agosto, e todos os autores brasileiros com contos de ficção científica ou fantasia publicados em 2009 e 2010 são encorajados a participar. O regulamento será disponibilizado em breve no website parceiro Universo Insônia  Não existe taxa de inscrição, e o vencedor receberá tradução do conto para inglês e contrato de publicação na IGMS, com pagamento padrão da revista.


sábado, 11 de junho de 2011

A Guerra dos Imoles, 8ª parte - uma noveleta de Roberval Barcelos

Segunda batalha

Akim catalogou quarenta aldeias num raio de cem quilômetros. Algumas controlavam extensos territórios e outras se limitavam a uns poucos campos de caça. De qualquer forma, ele sabia que o que procurava estava naquela aldeia nas margens do rio que mais tarde será conhecido como rio Oxum. Ao menos era o que lhes diziam os “eguns”.

– Linterbaun, quero que reúna as aldeias aliadas e prepare-as para um ataque.

– Desculpe, General – Akim virou o rosto, pois era muito raro seu fiel ordenança lhe objetar qualquer
coisa. – Mas nós podemos fazer isso em menos tempo e com mais facilidade.

Akim pôs as mãos para trás e rebateu:

– Você não entende. Se nós atacarmos a aldeia, eles fugirão e nunca saberemos quem é o “élégun”. Se outros como eles os atacarem, os aldeões se comportarão como um povo conquistado e aceitarão melhor sua nova situação.

Assim, chegaremos ao “élégun” porque certamente ele estará protegido contra qualquer perigo.

– Mas o ele... elé-gus... elêgun... seja o que for, poderá fugir do mesmo jeito, General.

– Não Linterbaun, não fugirá. Se submeterá porque é assim nesta época e neste lugar. Ele achará que poderá continuar sua missão sob novos senhores. Aí, quando estiver exposto, nós o pegaremos e o manteremos em cativeiro até os “igbá-imolés” chegarem. Meu pai Ogun virá na frente, abrindo os caminhos e então, lhe darei o prêmio máximo e o levarei para nossa época, para exterminar nossos inimigos.

Linterbaun não fez nenhum comentário. Seriam inúteis. Bateu continência e retirou-se para cumprir
ordens.

* * *

Chico Ferreiro e o Babalaô separavam as plantas que usariam na oferenda e na preparação do “élégun”.

Faltavam algumas plantas e as aves requeridas já estavam com as “iá-petebis” . Entre os dois ficava a certeza de que o tempo urgia e não estava a seu favor.

– Penso se Adebisi está preparado para tamanhos conhecimentos – disse o Babalaô, sem perder um detalhe do trabalho de Ferreiro.

– Ele tem que estar, afinal é o primogênito de uma nova ordem de iniciados.

– Então devo chamá-lo?

– Sim, deve.

O Babalaô fez um sinal para uma das “iá-petebi” que saiu dali em silêncio e retornou minutos depois com Adebisi.

– Querem falar comigo?

– Queremos mais do que falar – disse Ferreiro. – Queremos que fique e aprenda.

Adebisi olhou de soslaio para o Babalaô e pareceu descrente:

– Posso?

– Sim, Adebisi. é chegada a hora do escolhido dos deuses mostrar o que sabe e o que pode aprender – disse o Babalaô.

– Mas eu... não sei nada – objetou, encarando firme Ferreiro. – Como posso ensinar?

– Então fique e aprenda – respondeu Ferreiro.

Adebisi ficou.

Ferreiro estava exultante. Por uma dessas peças que o destino nos prega, lá estava ele, na África primitiva, diante do primeiro “élégun” e de um dos primeiros Babalaôs, testemunhando o alvorecer de sua religião. Embora não tivesse certeza de que voltaria para sua época ou se o mundo inteiro sobreviveria aos “igbá-imolés”, ao menos estava participando ativamente daquilo que, no futuro, lhe ensinarão como se fossem lendas.

Para Adebisi, Ferreiro era um professor e tanto, capaz de prender sua atenção e sorrir de satisfação quase como se o venerasse. Quando Adebisi queria aprofundar-se em algum assunto, o velho Chico interrompia dizendo que tal conhecimento lhe seria passado pelos deuses.

– E se o mundo for destruído?

Ferreiro e o Babalaô se entreolharam, e este respondeu:

– Ao menos um de nós morrerá depois de ter aprendido muita coisa.

E as ‘aulas’prosseguiram.

* * *

Adebisi admirava o trabalho de Ferreiro macerando as ervas e folhas que recolheu na mata com as “iápetebis”.

O velho estava sentado no chão, sobre uma esteira e com uma bacia de barro entre as pernas, onde
misturava o sumo das ervas e folhas com a água enquanto recitava algumas orações.

– Para quem é isso? – Adebisi perguntou.

– Para você – o iorubá de Ferreiro era impecável. – Quando chegar a hora, você tomará um banho com esta água de ervas da cabeça aos pés e, em seguida, fará todo resto.

– Que resto? Tudo aquilo que você me ensinou?

– Aquilo e muito mais do que você sabe agora.

– Xi! Mais complicação!

Ferreiro sorriu e continuou o trabalho enquanto as “iá-petebi” traziam mais ervas e folhas. Adebisi apenas observava e aprendia.

* * *

Giácomo e Roberto Alves caminhavam pelas bordas da aldeia e eram objetos da curiosidade de todos, afinal eram brancos, altos e usavam roupas estranhas. Ao passarem por um grupo de mulheres, Giácomo ensaiou um cumprimento, mas elas se viraram envergonhadas e riam baixinho enquanto eles passavam.

– E aí, Giácomo? – Roberto indagou em tom de deboche. – Vais encarar? Vamos ter que ficar por aqui
mesmo.

– Tá difícil, Roberto. Elas são muito ruins e cheiram mal. Não dá para encarar, não.

– Engraçado como as coisas mudam. Não era você que ficava dizendo que ‘não existe mulher feia, você é que bebeu pouco’?

– Dizia sim. Só que até a bebida daqui é questionável, sem falar no cheiro estranho. Acho que um pouco de abstinência sexual pode até me fazer bem. Ao menos por hora.

De repente, como se viesse do nada, uma lança quase acertou Roberto, que abrigou-se atrás de uma árvore.

Imediatamente, ele e Giácomo sacaram suas Terminators. Seria um atentado?

Em minutos, uma gritaria veio da aldeia. Diante deles surgiram quatro guerreiros cobertos com a pele de algum animal e armados com lanças e facas de madeira. Nem faziam idéia das armas dos dois agentes.

Azar deles. Com quatro disparos certeiros, Roberto e Giácomo mataram os quatro e voltaram para aldeia, que estava sob ataque.

* * *

Franco sentia-se um zero à esquerda prostrado na esteira. Levantou-se devagar e caminhou até o lado de fora da cabana, onde encontrou Chico Ferreiro e o Babalaô separando folhas verdes. Ao lado deles estava Adebisi que olhava com curiosidade colegial e as “Iá-petebis” que obedeciam a todas as ordens, indo e vindo com folhas e pequenas aves.

O homem branco, que ainda tinha seus poderes advindos da tecnologia, sentiu algo errado. Mas, como nada mais parecia fazer sentido, era difícil distinguir anomalias de risco imediato.

– Tem alguma coisa errada aqui! – as palavras de Franco soavam vacilantes, mas chamou a atenção dos outros.

– O que é que tá errado, fio? – Ferreiro indagou sem parar de fazer a seleção das folhas.

Franco não respondeu, olhou na direção da trilha, de onde vieram dois meninos, que avisaram:

– A aldeia está sendo atacada!

Ele nem perguntou quem atacava. Recolocou seu anel de volta no dedo anular e saiu dali numa velocidade tamanha que parecia ter desaparecido sob os olhares de todos.

Em dois segundos Franco chegou à aldeia, que estava sendo atacada não pelos homens de Akim, como ele esperava encontrar, mas sim por guerreiros negros. Gente que ele esperava proteger.

De repente, sentiu uma ameaça vindo de trás. Quando se virou, viu uma lança aproximando-se como se fosse um filme rodado em câmera lenta, mas seus poderes eram quase divinos e bastou ele vibrar noutra escala do tempo para que tudo se movesse tão devagar que parecia estático. A lança pendia solta no ar e as chamas das cabanas mal tremulavam, enquanto os rostos eram expressões mudas daquela violência.

Franco distinguiu amigos de inimigos e correu entre eles, golpeando alguns e arrancando as armas de
outros. Esperava que os atacantes atribuíssem esse fato a uma intervenção dos deuses e fugissem em pânico.

Em tempo normal, os atacantes sentiram fortes pancadas em seus braços e constataram que suas armas
haviam sumido. Estavam desarmados e machucados diante de um inimigo que reagia com força. Espantados, eles se preparavam para fugir, mas outra leva de guerreiros veio juntar-se a eles, vinda de outras aldeias, devolvendolhes a coragem. Havia agora um atacante para cada habitante da aldeia.

Franco sentiu-se idiota. Fora muito eficaz para provocar medo, mas não para desencorajá-los. Quando
preparava uma nova investida, sentiu o chão tremer debaixo de si.

Surpreso e sem identificar o atacante, passou para outra escala de tempo, ainda mais rápida que a anterior, e viu tudo parado, sem som. O ar pesado por causa da ausência de movimento. Deslocou-se para fora da aldeia, onde poderia confrontar seu oponente sem correr o risco de ferir alguém, mas não encontrou ninguém.

Como que respondendo a uma pergunta não proferida, um negro sorridente, cabeça coberta por uma
carapuça vermelha e preta surgiu diante dele. Vestia um saiote de pele de animal tingido de vermelho e preto, mas sem qualquer simetria. Franco tentou reconhecer se seria um “Irú n-imolé” ou... não.

O Ser fez um sinal, apontando com o indicador o dedo anular da mão onde Franco usava o anel.
Dor!

De alguma maneira Franco foi golpeado na barriga e no peito. Doeu muito e o Ser continuava no mesmo lugar, olhando com curiosidade para ele. Franco voltou para o tempo normal e não viu sinal da batalha, apenas o vai e vem de mulheres e homens, sem qualquer sinal de luta anterior.

Fora jogado no ontem!

Franco logo entendeu que, de alguma maneira, o Ser mexeu no tempo. Em seguida, retornou ao presente, bem no meio da batalha.

Como o Ser fez isso?

Franco saltou para tempo rápido, numa escala tão mais rápida que até o ar estava pesado. O Ser estava ali com ele, rindo e apontando para sua Terminator. Quando Franco pensou em usar a arma, voltaram para tempo normal e a batalha estava bem diante dos seus olhos e ouvidos.

Depois de alguns segundos, foi possível descobrir quem era o Ser. Ele não queria que Franco usasse seus poderes tecnológicos. Ao menos não nesta época. Não era um “Imolé” inimigo, mas um futuro Orixá, que parecia ter entendido que fora reconhecido e, sem fazer qualquer gesto, desapareceu.

A batalha continuou e Franco destravou sua Terminator para mirar num guerreiro inimigo. Quando ia
atirar, uma lança passou perto de sua cabeça, mas tão perto que por pouco não o acertou. Franco, surpreso, constatou que a lança não se destinava a ele, mas sim a um guerreiro inimigo que estava bem próximo, com uma faca de madeira na mão. Seja quem for que arremessou aquela lança, salvou-lhe a vida.

– Não descuide durante uma batalha.

Era o dono da lança, um africano corpulento que chegou com reforços e que atacavam os invasores.

– Diga-me o teu nome! – a curiosidade de Franco era sincera. Quando chegou nesta época, achava
impossível ser surpreendido por qualquer fato. Agora estava acostumado a surpresas.

– Afisi! – bradou o guerreiro, mas estava indiferente e voltou-se para batalha.

O embate prosseguiu. Os guerreiros da aldeia se animaram com os reforços que chegaram com o tal de Afisi e revidaram com renovado entusiasmo o ataque. Roberto e Giácomo também lutavam, apesar da vantagem tecnológica das Terminators.

Franco sorriu. Os homens de Afisi e – pasmem! – Roberto e Giácomo, derrotaram os inimigos. Todos os sobreviventes fugiram.

Que havia muita coisa errada, Franco já sabia, mas nunca imaginou que logo Exu, mensageiro dos Orixás, viesse lhe dar o terrível recado: não deveria usar seus poderes aqui.

* * *

Franco nunca levou a sério esta história de deus intempoliano mesmo depois de fazer coisas que muitos dos mais cépticos chamariam de impossível. Para ele, seus poderes eram uma dádiva de séculos de evolução tecnológica da raça humana – talvez a mais enigmática raça a habitar o universo. A divindade seria um escárnio ou uma atribuição exagerada dos crédulos das Eras pré-industriais.

Fazer o quê? Nos corredores da Empresa correm histórias e nem tudo é do conhecimento de todos,
principalmente as dádivas divinas do Nível 6, que, segundo as lendas, teriam sido partilhadas somente com o Comissário Fraga numa das mais enigmáticas missões de todos os tempos (e tempos alternativos).

Ele era só um universitário em Palmares quando foi recrutado para trabalhar numa empresa cuja extensão dos tentáculos ele sequer imaginava. Lá dentro, soube que já era esperado e que o universo era maior do que supunha a vã física de sua Linha Temporal. Foi enviado para uma filial numa LT onde os nazistas venceram a Segunda Guerra Mundial e dali foi transferido para outra onde a China capitaneou a descoberta da América. Antes do previsto, foi alçado a uma qualificação superior, que lhe garantiria o acesso a uma tecnologia capaz de confundílo com uma divindade. Daí em diante, entrou para o rol das lendas e passou a ser referido como ‘deus’, embora não fosse sequer figura conhecida – graças a Deus!

– Pensando na vida, mizinfio?

Franco virou-se num sorriso formal para Ferreiro. Na LT de onde o velho veio, Palmares nunca formou uma nação independente. Ele foi para o Brasil com as três princesas africanas para plantar o axé e consagrar as primeiras Ialorixá s do Candomblé.

– Sim, meu velho. Pensava inclusive naquelas vidas que poderíamos ter tido.

– Úiii, mizinfio! Vosmecê fica aí remoendo o passado...

– Eu não disse isso!

– Eu sei. Nem poderia, porque vosmecê nem mais conhece o tempo como ele é. Pra vosmecê o tempo virou um lugar de onde se vai e se volta quando se quer, não é?

– Mais ou menos. Nosso ‘quando’ também pode ser ‘onde’: “Quando” Palmares foi estabelecida e “onde” ela vingou ou não. Quando os africanos foram escravizados na América e onde nunca puseram os pés lá. São esses ‘quandos’ e ‘ondes’ que nos trazem aqui, meu velho. Ferreiro franziu o cenho e parecia estudar o rosto do jovem que o olhava com admiração – E ‘quando’ os Orixás foram até os homens – começou Ferreiro – ‘onde’ eles fracassaram? Franco sabia que estava diante de um homem bastante sábio. Não mediu as palavras.

– Talvez você não entenda tudo o que vou dizer, mas os deuses da Mãe África são uma possibilidade remota – remotíssima – e temo que nada possa fazer frente à ameaça que vem, nem mesmo meus poderes.

– Poderes, mizinfio? – Ferreiro estava boquiaberto.

– Vosmecê fala como se fosse um Orixá.

– Não, meu velho. Estou longe disso.

– E que poderes são esses?

Franco abriu os braços e respondeu:

– Estamos aqui, não estamos? Esse é o meu poder: manipular o tempo.

– O homem não precisa de poder porque é inteligente demais para isso. Quando eu nasci mal se andava de carroça, quando fiz sessenta anos já se voava. Poderes são para os deuses que não sabem que precisam aprender sempre e sempre.

– E o que se ensina para os deuses?

– Muita coisa – Ferreiro sorriu, – por isso eles estão aqui e vosmecê ainda não entendeu.

Disse e saiu. Deu-lhe as costas e voltou aos seus afazeres, ditando à “Iá-petebi” as ervas e animais que queria.

Franco ficou com novas divagações. Foi interrompido de seus pensamentos por Roberto:

– Agora você vai falar, seu merda! – Roberto estava com a Terminator em punho. – Alguma coisa nos
prendeu neste tempo e sabemos que você sabe o quê se passa aqui. Vai falando logo! Tadeu tentou demover Roberto de uma atitude mais radical e o resultado foi uma coronhada que fez o psico-historiador cair. Giácomo pensou em reagir, mas o experiente Roberto virou-se a tempo de mostrar-lhe o cano da arma e fazer ver que não está brincando.

– Desembucha, porra! – arma apontada para Franco.

Ainda sentado, Franco soltou um muxôxo e ordenou:

– Vou lhe dar uma chance: largue agora esta arma.

– Largo o caralho! – estava fora de si. – Eu não quero morrer neste lugar nojento!

Então, como num milagre, Franco moveu-se da esquerda para direita e para frente tão rápido que Robertosó percebeu que estava sem a Terminator quando a viu na mão de Franco.

– Agora podemos conversar? – perguntou Franco.

* * *

Sem entrar em maiores detalhes e sem revelar os segredos mais essenciais da Empresa, Franco lhes contou sobre a missão e sobre si mesmo.

– Você é um ‘deus’?

– Suas palavras, Tadeu, não minhas.

– Mas não existe Nível 6!

– Posso garantir a vocês que existe e que sou membro do Conselho Diretor da Empresa.

Silêncio total. Melhor voltar para o assunto inicial.

– O que houve com nossas Caixas? O que você viu que te fez ficar esquisito e desmaiar? F r a n c o
passou a língua nos lábios. Já esperava todas essas perguntas, mas precisava escolher com cuidado as palavras para as respostas.

– É procedimento comum os membros do Nível 6 terem conhecimento do resultado da missão – qualquer missão – antes mesmo dela começar. Porém, nesta missão, o Ponto de Divergência apresentava-se como uma incógnita. Nunca soubemos ao certo o que aconteceu durante a guerra dos Imóles, apenas sabemos o que houve depois. Quando Akim saiu do século 25, julgamos que a divergência seria mínima, mas desde que ele violou o campo quântico e se deslocou para cá, o CET passou a registrar variações incomuns.

“Por isso eu fui designado para esta missão. Quando chegamos, o Contínuo Espaço-Temporal parecia
normalizado e fui fazer um reconhecimento antes de dar a missão como concluída.”

Franco fez uma pausa como quem se prepara para dar a notícia de um falecimento à família do morto.
Respirou fundo e prosseguiu:

– Fiz uma rápida passagem pelos momentos futuros. Assisti ao avanço dos “igbá-imóles”, o ataque dos
homens de Akim, nosso revide, o encontro com os “irun-imóles” e... de repente, nada. – Como assim
nada? – perguntou Roberto, sob os olhares preocupados dos demais.

– Foi o que eu vi: nada! Eu estava flutuando no vácuo e, onde deveria estar a Terra, havia somente destroços tanto da Terra quanto da Lua.

– Peraí! – Giácomo gritou erguendo a mão – Tá querendo nos dizer que o planeta foi destruído?

– Isso mesmo. Esse resultado não era previsto e não pude alterá-lo. O anel que vocês vêem comigo me dá mais poderes do que o mero deslocamento temporal e pude sobreviver no vácuo tempo suficiente para voltar e tentar evitar o que acontecerá.

Roberto, com a respiração ofegante, indagou:

– E se deixássemos essa LT prá lá e fossemos para outra LT? Poderíamos ir para Atlântida.

Franco sacudiu a cabeça:

– Vocês acham que não cogitei isso? Não há nada. Nada! As forças que se envolveram aqui foram tão
poderosas que a destruição da Terra ecoou em todas as escalas da Realidade. Isso eliminou a Terra de todo CET, mesmo naquelas LTs onde o Homem jamais se desenvolveu.

Roberto, suando e de olhos arregalados, caiu sentado e murmurou:

– Meu Deus, vamos todos morrer!

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